O luto na pandemia

Jéssica Kuhn

“O luto é o preço do amor”. Essa frase é do psiquiatra inglês, Colin Murray Parkes, um dos maiores especialistas em luto no mundo. Ela nos remete à perda de quem amamos e também de tudo aquilo que nos é caro.

O luto é um processo natural que ocorre quando há um rompimento de vínculo: o falecimento de um ente querido, demissão, término de relacionamento afetivo ou mesmo a perda de uma possibilidade de futuro. Tudo isso nos faz passar pelo processo emocional do luto.

Atualmente estamos todos vivenciando uma espécie de luto coletivo. E como se não bastasse, estamos sentindo vários lutos ao mesmo tempo! Luto pelas pessoas que se foram, pela crise financeira que vivemos, luto pelas escolas fechadas, pelos planos que fizemos e tivemos que adiar, luto de um modo de vida que subitamente teve que ser deixado para trás e transformado.

Estudos sobre o estresse pós traumático e o luto começam a surgir e a se multiplicar em razão da atual pandemia de Covid-19, do mesmo modo como aconteceu no final da Segunda Guerra Mundial. Afinal, os impactos emocionais sentidos anteriormente e agora são desafiadores no que diz respeito à saúde mental dos que cuidam e dos que sobrevivem às perdas.

O impacto amplificado 

O impacto da morte de uma pessoa próxima  durante uma pandemia é muito particular.

Na pandemia há um sofrimento em comum. Isso pode gerar empatia com o luto do outro, mas também aumenta o risco do enlutado ser visto como apenas mais um.

O isolamento social e a impossibilidade de se despedir de quem partiu também impactam o processo de luto.

Despedir-se é de suma importância, pois promove o contato com a realidade da perda e favorece a sua assimilação. Ao mesmo tempo permite que o sofrimento e o desamparo da perda sejam compartilhados entre aqueles que o sentem.

Algumas pesquisas já sugerem aumento na intensidade e duração dos sintomas vivenciados pelo luto. É o chamado “luto patológico” ou “luto prolongado” (quando esse processo natural da vida de todo ser humano se torna um problema de saúde).

Embora não seja possível fixar prazos para superar a dor, no chamado luto prolongado todos os pensamentos da pessoa estão relacionados com a perda e ela sequer consegue realizar as tarefas de rotina. Trata-se de um comportamento persistente, que se estende por um longo período de tempo.

É importante ressaltar que cada pessoa vivenciará o luto à sua maneira.

Como ajudar quem enfrenta o luto

Despedir-se é de suma importância, pois promove o contato com a realidade da perda e favorece a sua assimilação. Ao mesmo tempo permite que o sofrimento e o desamparo causadas por ela possam ser compartilhados entre aqueles que a sentem.

Mas agora, mais uma vez, tivemos que nos reinventar. Por risco e temor de contaminação, os rituais de despedida precisam ser mantidos através meios remotos de encontro e comunicação. Ainda assim:

° é fundamental fazer-se presente, ainda que de forma virtual, através de mensagens, telefonemas… oferecendo apoio e ajuda à pessoa enlutada

° é muito importante permitir que a pessoa expresse toda sua dor e saudade e que tenha certeza de que não está sozinha nesse momento.

A hora da ajuda profissional

Espera-se que a pessoa enlutada vá retomando aos poucos a sua rotina de vida. Quando isso não acontece, podemos estar diante de um luto patológico.

E nesse caso, a ajuda profissional é muito bem-vinda, a fim de se fazer uma avaliação mental da saúde, obtendo assim um diagnóstico preciso e também uma avaliação quanto à necessidade de um acompanhamento terapêutico.

A psicoterapia psicanalítica irá ajudar na elaboração do luto, auxiliando na reorganização mental e no alívio do sofrimento psíquico.

Se você está passando por esse momento difícil e não está conseguindo lidar com seus sentimentos, não hesite em procurar ajuda.

Você também pode saber mais sobre o luto e suas diferentes etapas lendo o artigo de Jéssica Kuhn “Luto: um processo a ser compreendido”, publicado em 31 de outubro de 2019 (https://www.i-psi.org/post/luto-um-processo-a-ser-compreendido).

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