A “cura pela palavra”, em (neuro)imagens

Publicado dia 30 de novembro de 2020

Pesquisas recentes em neurociências têm levado a interessantes descobertas sobre os efeitos da psicoterapia no cérebro. Já é possível comprovar que ela ativa mudanças neurais que estão relacionadas com a melhora dos sintomas dos pacientes.

As ideias e hipóteses de Freud, tais como as bases neurofisiológicas do funcionamento mental, a existência de marcadores biológicos para processos psíquicos e até a comprovação da psicanálise como eficiente método terapêutico estão sendo validadas.

Graças ao avanço da tecnologia na medicina, técnicas de neuroimagem como a Tomografia por Emissão de Pósitron (PET), a Ressonância Magnética Funcional (FMRI) e a Tomografia por Emissão de Fóton Único (SPECT), têm sido cada vez mais utilizadas em pesquisas sobre o funcionamento cerebral associado aos transtornos mentais e seu tratamento.

A comprovação em imagens

De acordo com a literatura cientifica, sucessivos estudos com neuroimagem demonstraram que sessões de psicoterapia modificam conexões neurais e padrões de comportamento.

Um exemplo disso é a pesquisa de Ritchey et all, de 2011, na qual pacientes que sofriam de depressão sem fazerem uso de medicação alcançaram, após a psicoterapia, um aumento na excitação das regiões cerebrais envolvidas no planejamento e tomada de decisão, expressão das emoções, aprendizagem e memória (córtex pré-frontal ventromedial, amígdala, núcleo caudado e hipocampo).

Pesquisas já mostraram modificações – após tratamento psicoterápico – também no cérebro de pacientes com Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e em pacientes portadores de fobias,  onde observou-se uma diminuição das áreas responsáveis pelo controle das emoções,  comportamento e memória (áreas límbicas e paralímbicas cerebrais).

Exames de neuroimagem constataram os efeitos da psicoterapia também no tratamento de traumas: ficou demonstrada uma maior atividade no córtex pré-frontal (responsável pela interpretação e resposta das informações e experiências) e uma diminuição da atividade da amígdala (relacionada à expressão de medo), fortalecendo a tese de que falar sobre o problema ajuda a pessoa a superar o processo traumático.

Como se vê a partir de tais exemplos, pesquisas apontam para uma correlação da melhora dos sintomas dos pacientes e mudanças na atividade cerebral.

O impacto na saúde pública

Os estudos com neuroimagem conseguiram mostrar que quem completa o tratamento psicoterápico sai 80% melhor do que os pacientes que se recusam a fazer terapia.

Diante de um resultado tão expressivo, alguns paises já começam a promover mudanças nas suas políticas de saúde pública. É o caso da Inglaterra, onde o governo anunciou um investimento de 170 milhões de libras para treinar profissionais para o atendimento psicoterápico.

Apesar de num primeiro momento o gasto com um tratamento à base de medicamentos ser inferior ao custo de uma psicoterapia, a segunda alternativa oferece uma melhor relação custo/benefício, pois tende a apresentar menor reincidência (da depressão, por exemplo) e efeitos mais duradouros.

O mapa do processo terapêutico

A capacidade de induzir alterações nas redes neurais não é exclusividade da psicoterapia. As experiências vividas provocam mudanças na atividade cerebral – como quando ouvimos nossa música favorita ou sabemos de uma notícia triste.

A diferença é o crescente reconhecimento por parte da comunidade científica quanto à efetividade da psicoterapia sobre nosso sistema de memória e aprendizagem e no processamento de emoções.

As técnicas de neuroimagem possibilitam identificar as principais vias neurais implicadas nos transtornos emocionais, e assim favorecem o desenvolvimento de tratamentos mais apropriados a cada um deles. O conhecimento dos mecanismos cerebrais envolvidos na psicoterapia reforça sua credibilidade como um método eficaz para o tratamento dos transtornos emocionais e mentais.

Os circuitos neuronais são muito mais plásticos do que se supunha anteriormente. E a psicoterapia pode alterar o funcionamento cerebral, trazendo consequências benéficas para a qualidade de vida emocional dos pacientes.