Jéssica Kuhn indica “O retrato de Dorian Gray”

Publicado dia 25 de fevereiro de 2021

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“O retrato de Dorian Gray”
Nacionalidade: Reino Unido
Ano: 2009
Direção: Oliver Parker
Gênero: Drama, mistério
Duração: 1:52
Plataforma: Amazon Prime Vídeo, Apple TV, Clarovideo

Adaptação do romance homônimo e único de Oscar Wilde, escrito em 1891, “O Retrato de Dorian Gray”, dirigido por Oliver Parker, traz a história de um rapaz da alta sociedade inglesa do século 19 – Dorian, vivido por Ben Barnes.

Ao ter seu retrato pintado por um artista e encantar-se com sua própria beleza, formula em voz alta o pedido de que nunca envelheça. A exemplo do Fausto de Goethe, Dorian será atendido.

À luz da psicanálise, o filme ecoa temas como narcisismo, perversão e loucura.

A obsessão de Dorian por seu retrato nos remete ao mito de Narciso. E foi Freud quem nos apresentou ao que hoje conhecemos por “narcisismo” (admiração excessiva por sua própria imagem e auto-amor exagerado), traço cada vez mais presente em nossa sociedade.

Dorian Gray, ao perceber-se como um homem extremamente bonito, deseja permanecer belo e jovem para toda vida. Essa felicidade absoluta e inalcançável buscada pelo protagonista, nos leva não apenas a Freud, mas também à teoria do gozo, de Lacan. Lacan define o gozo como uma situação que transcende as reações corporais percebidas no momento do orgasmo. Para ele, antes da vibração corporal, o gozo já está constituído na psiquê humana. Dentro da teoria lacaniana, o gozo se constitui através de uma falta.

Dorian Gray, além de narcisista é a personificação do perverso. Enquanto o roteiro de “Psicose” (filmado por Alfred Hitchcock em 1960) mapeia com precisão o percurso da loucura, “O retrato de Dorian Gray” transita extremamente bem pela trilha da perversão.

Gray, como personagem perverso, sabe exatamente o que quer e faz de tudo para alcançar o seu objetivo (o seu gozo). Não há arrependimentos ou qualquer tipo de apreensão em seus atos, ele simplesmente age em busca de seu maior desejo. Ao tratar de perversão, Freud a definiu como a estrutura clínica, onde o desejo é isento de qualquer sentimento de culpa, ao contrários das angústias vivenciadas pelo neurótico.

Numa visão psicanalítica, o personagem se entrega à “lei do gozo” como um perverso; por outro lado, nega a existência da castração, cinde-se em “bom” e “mau” como um psicótico. Nessa negação da falta (não quer perder a beleza e a juventude), Dorian provoca uma cisão em seu eu – no qual, para manter um lado bom, nega o mau, projetando-o massivamente no retrato.

A perversão em Dorian Gray parece ser uma tentativa desesperada de defesa contra a irrupção da psicose. E assim, ele faz um acordo com o destino, incentivado por um perverso que goza ao fazê-lo gozar.

 

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