Maria Zélia Brito de Souza indica “O guia da família perfeita”

Publicado dia 16 de setembro de 2021

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“O guia da família perfeita”
Nacionalidade: Canadá
Ano: 2021
Direção: Ricardo Trogi
Gênero: Drama, comédia
Duração: 01:42
Plataforma: Netflix

Não há como negar o quão desafiador é criar os filhos em meio a uma sociedade que dedica crescente importância ao sucesso e à imagem que cada um projeta. Diante de tanta competitividade, o limite entre o incentivo e a cobrança exagerada nem sempre é muito claro. É justamente essa exigência por desempenho a todo custo o tema abordado – e satirizado – em “O guia da família perfeita”.

O enredo se passa em Quebec, em torno do personagem central, Martin, interpretado por Louis Morissette, e que também é um dos autores do roteiro, o que explica por que a história se passe ao redor do seu personagem, principalmente com sua relação com a filha adolescente, Rose, interpretada por Émilie Bierre.

O filme quase fica de fora da lista de preferidos, em função do título, que sugere aqueles enredos enfadonhos das famílias perfeitas passando por crises, e que terminam com finais felizes. Apesar de estar classificado na plataforma Netflix como comédia, o filme mais apresenta uma crítica social em cima da pressão realizada sobre os filhos, sobrecarregados com atividades extracurriculares, por pais obcecados em exigir deles  o melhor desempenho a qualquer preço.

A família é constituída por um pai (Louis Morissette), obcecado pelo trabalho e por resultados, em seu segundo casamento com uma esposa (Catherine Chabot) mais preocupada com sua imagem projetada nas redes sociais, o filho pequeno criado sem limites, Mathis, interpretado pelo ator mirim Xavier Lebel, e a filha mais velha, adolescente de 16 anos, fruto do seu primeiro casamento, Rose, brilhantemente interpretada por Émilie Bierre.

Rose é justamente a que apresenta maior complexidade psicológica, trazendo reflexões sobre o peso da adolescência em não conseguir cumprir as expectativas dos pais, tema muito comum hoje em dia, vivenciado por muitos adolescentes, que não encontrando um olhar de aceitação para o que eles são de verdade, em contrapartida com as expectativas de seus pais não atingíveis, são tentados a caminharem para a delinquência ou até mesmo à tentativa de suicídio.

O drama se desenrola neste cenário, onde os resultados a qualquer preço e as aparências são o que mais importam, num enredo onde o casal tem dificuldades de enxergar um ao outro, e muito menos os filhos. Vivem mais para os outros, para os vizinhos, parentes e amigos, do que para si mesmos e sua família.

Paralelamente a isto, temos a mãe da menina (Isabelle Guérard), uma personagem altamente narcísica, que numa tentativa de aproximação com a filha consegue complicar ainda mais a percepção da adolescente de que não é olhada por ninguém.

“O guia da família perfeita” se mostra então um filme que, de uma maneira leve e não tão profunda, consegue apontar para estes conflitos na educação dos filhos, por uma geração indecisa entre replicar modelos antigos ou se apropriar de novos caminhos, bem como resolver o conflito entre viver suas próprias vidas e conquistas e conseguir enxergar seus filhos como pessoas integrais que não estão ali para cumprir suas expectativas.

 

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