Quero meu pai

Publicado dia 3 de agosto de 2021

Quero meu pai

Maristela Napolitano

A ideia de ter um pai perfeito, que além da subsistência e segurança, provê também carinho e atenção, aceitação, é responsável, trabalhador, lindo e inteligente certamente está no imaginário de todos. Trata-se da nossa versão de pai super-herói.

Essa imagem infantilizada deveria ficar na infância, entretanto, o que comumente vemos no consultório é filho – adulto – apontando para os defeitos do pai. Então, pai não pode errar? Deve permanecer eternamente nas vestes de um super-herói?

O pai que você encontra na vida real é uma pessoa com defeitos e limitações inerentes a todo ser humano. Sim, pai também erra! Não porque queira errar, simplesmente porque, como todo humano, é vulnerável. Se você se recusa a enxergar isso, sua relação com seu pai pode transformar-se em acusações e julgamento e o resultado será a frustração.

Vemos, através da fala dos pacientes adultos, um desejo de que o pai cumpra com a imagem que um dia aquela criança criou desse pai. Não percebem que se utilizam de uma lei muito específica para julgar: a sua própria. Não percebem que, ao julgar, se colocam como referência do correto, de perfeição, afinal, o que mais poderia lhes assegurar a posição de apontar o que está certo ou errado? Falas como “meu pai deveria…” ou “meu pai não podia…” “meu pai tinha que…” evidenciam claramente que a imagem de pai admitida é o pai de sua imaginação, ainda que experimentem na sua própria vida de adultos a dificuldade de atender as exigências e demandas de outras pessoas com quem se relacionam.

É necessário então perguntar-se: o que o torna competente para apontar um erro, julgar ou condenar seu pai? Seu pai está errado mesmo, ou simplesmente não corresponde a sua expectativa? Você é capaz de enxergar esse pai como ele verdadeiramente é, ou ainda deseja o pai da sua imaginação?

Há um novo caminho a ser percorrido: admitir que essa figura que você chama de pai é apenas um ser humano que, com certeza, fez o melhor que pode. Considerar que dentro desse pai habitam experiências de medo, insegurança, abandono, exclusão e muitos outros que fundamentaram seus atuais comportamentos – isto é, ele é fruto das experiências e percepções que teve durante sua vida, as mesmas experiências que talvez você esteja vivendo agora, no papel de filho. Enfim, aceitar que mesmo não sendo quem você gostaria, seu pai fez o melhor que ele pode, o tempo todo. Ele tem motivos, na história de vida dele, para ter os comportamentos que tem, ainda que sejam inconscientes.

Você pode fazer uma nova escolha hoje: mudar seu olhar de julgamento para um olhar de compaixão, entendendo e aceitando a limitação desse ser humano ao desempenhar a função de pai. Ressignifique sua relação com seu pai e tenha uma vida mais plena. Se isso lhe parece improvável, considere buscar ajuda profissional. Consulte um dos psicanalistas da i-PSI. Certamente você desenvolverá um novo olhar, não só para esse relacionamento, mas para todos os relacionamentos da sua vida.

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