Suicídio: Conversar e agir salva vidas

Publicado dia 21 de setembro de 2021

Jéssica Kuhn

No Brasil, todos os dias cerca de 32 pessoas dão fim a própria vida. O número corresponde a uma morte a cada 45 minutos.

Você  sabia que o suicídio é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos de idade?

E que cerca de 90 a 98% das pessoas que cometem suicídio sofrem de algum transtorno mental? Não é diferente com os jovens. Entretanto, alguns grupos de adolescentes são mais vulneráveis.

Estudos mostram, por exemplo, que 40% dos adolescentes LGBTs consideraram seriamente a ideia de suicídio, 35% o planejaram e 25% tentaram se matar, contra 15%, 12% e 6% dos heterossexuais, respectivamente.

Atacar os preconceitos e as causas sociais também são uma forma de prevenção.

A campanha “Setembro Amarelo” visa a prevenção ao suicídio e é uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), da Associação Brasileira de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina. Neste ano, o tema é “Agir salva vidas”.

Uma pesquisa realizada pelo CVV mostrou que, para cada suicídio, um grupo de até 20 pessoas é impactado diretamente.

Setembro está chegando ao fim e nós da i-PSI, achamos importante  encerrar o mês revisitando este tema que já abordamos outras vezes e esclarecendo as suas dúvidas sobre ele.

  1. É normal adolescente ter depressão?

Existe uma depressão típica da adolescência, causada pelas mudanças fisiológicas e emocionais dessa etapa da vida. Afinal, os adolescentes passam por muitos conflitos relacionados ao autoconhecimento e à construção de sua identidade: definição profissional, compreensão e exercício da sua sexualidade, etc.

  1. Dá para diferenciar sintomas de depressão e da adolescência?

Nem sempre é fácil identificar os sinais de depressão no adolescente.

Isso porque todos os sinais também são sinais típicos da adolescência (irritação, ganho ou perda de peso, apatia…). Qual é o adolescente que não tem alguns desses destes sintomas?

Por isso é fundamental cultivar e manter um diálogo aberto com os filhos, desde cedo. Essa relação mútua de confiança pode fazer toda a diferença.

  1. Todo suicídio é consequência da depressão?

Não. O suicídio decorre de vários quadros clínicos e às vezes não tem nada a ver com a depressão, como casos de psicose, por exemplo.

A depressão muitas vezes funciona até como uma defesa contra o suicídio!

  1. O que leva alguém a cometer suicídio?

Há muita divergência sobre os processos que podem levar ao suicídio.

E embora seja comum pensar o suicídio como um processo gradual de uma depressão, é um erro ligar todos os casos de suicídio à depressão.

  1. De quem é a culpa?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que a maioria dos suicídios poderia ter sido evitada se houvesse tratamento adequado. Isso é  verdade. Mas isso não é o mesmo que dizer que alguém teve culpa.

É preciso reaprender a viver sem a pessoa, e ter certeza de que você não teve culpa. Ninguém é culpado.

  1. É possível prevenir o suicídio?

Sim, a maioria dos casos de suicídio são preveníveis. No sentido de que a maior parte das condições que levam ao suicídio (uso de substâncias, psicoses, depressão, etc), mesmo aquelas não ligadas à saúde, como isolamento social, podem e devem ser tratadas.

Os dados da OMS sobre suicídios que podem ser evitados são baseados em um estudo detalhado sobre 15 mil suicídios e que concluiu que, em 98% dos casos, a pessoa sofria de algum transtorno mental, ou seja: a morte poderia ter sido evitada se a pessoa recebesse o tratamento adequado.

  1. É possível determinar o perfil de quem tem tendência a cometer suicídio?

Embora haja algum nível de previsibilidade, é impossível detectar  o risco de alguém de forma determinística.

  1. Quais seriam as características mais comuns de um suicida?

Impulsividade, agressividade, histórico e tendência a desenvolver transtornos mentais (casos de psicose na família, por exemplo) são características de risco. E obviamente há maior potencial de risco para as pessoas que já apresentaram comportamento suicida no passado.

  1. Toda pessoa que comete suicídio tem, necessariamente, algum transtorno mental?

Não. Mas o transtorno mental é algo que está presente na maioria absoluta dos suicídios (cerca de 90% dos casos). O que significa que, na ausência de transtorno, é mais difícil ocorrer o suicídio.

  1. Como perceber se há risco de uma pessoa cometer suicídio?

Dois terços das pessoas que cometem suicídio dão sinais explícitos de que estão pensando em fazer isso. Preste atenção à fala dela: muitas frases que indicam culpa, desespero e pessimismo, como: “eu sou um fardo”, “eu não sirvo para nada”, são indícios seguros dessa intenção.

O outro terço mostra sinais relacionados a transtornos mentais, como depressão. O indivíduo perde o interesse nos prazeres do cotidiano, fala de forma diferente sobre sua tristeza… Também há mudança de comportamento, como intensificação de uso de substâncias lícitas e ilícitas.

  1. O que fazer se uma pessoa ameaçar se suicidar?

Não se esqueça: ninguém é responsável pela vida do outro. Se você perceber alguém em risco, você deve se mobilizar para que ela aceite ajuda profissional para aliviar o sofrimento dela. Mas que isso não vire um peso para você, como se a responsabilidade por mantê-la viva fosse sua. Não é, nunca é! É preciso reconhecer a nossa impotência, não conseguimos controlar tudo, muito menos a vida do outro.

  1. Qual a recomendação para quem tem pensamentos suicidas?

A recomendação é procurar ajuda de alguém em quem você confie, dentro de seus vínculos familiares e afetivos e assim conseguir apoio para buscar a ajuda externa de um profissional.

A i-PSI, com esse artigo, espera ter ajudado a sanar suas dúvidas sobre um assunto ainda tabu e de muita importância.

Setembro Amarelo é todo dia! “Agir salva vidas” e falar é sempre necessário.

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