Jéssica Kuhn indica “Professor Polvo”

Publicado dia 20 de maio de 2021

Jéssica Kuhn indica “Professor Polvo”

 

i-PSIne 🎬:

“Radioactive”

Nacionalidade: África do Sul
Ano: 2020
Direção: Pippa Ehrlich, James Reed
Gênero: Documentário
Duração: 1:25
Plataforma: Netflix

Vencedor do Bafta e do Oscar 2021, o documentário “Professor Polvo”, da Netflix, mostra a incrível história de amizade entre um homem, o cineasta Craig Foster, e um polvo selvagem numa floresta de algas sul-africana.

Foster encontrava-se depressivo e à beira de um “burnout”. Ele não conseguia mais trabalhar, seu casamento estava em crise e a relação com o filho também. Até que se lembrou de sua infância, quando sua maior alegria era estar perto do mar. E lá foi ele, mergulhar na floresta de algas da costa da Cidade do Cabo, na África do Sul – um dos ecossistemas mais ricos do mundo.

Foster acaba se interessando particularmente por um polvo e começa então a documentá-lo. O mais surpreendente talvez seja que o animal desenvolveu um interesse similar por Forster, a tal ponto que muitos não hesitariam em chamar essa relação inusitada de amizade.

O documentário já valeria por nos permitir testemunhar o comportamento do polvo, uma criatura que possui um cérebro central e oito paralelos, um dentro de cada tentáculo – num conjunto que totaliza 500 milhões de neurônios. Os neurônios de cada  tentáculo permitem cheirar, saborear e mover objetos de forma independente sem a ajuda de seu cérebro. Este é um órgão tão desenvolvido que faz de tais invertebrados os mais inteligentes do planeta, sendo sua inteligência equivalente a de um cachorro.

Mas há muito mais envolvido. E é neste cenário, onde a vida marinha age em seu ciclo natural, que Foster começa a refletir sobre a vulnerabilidade da vida e passa a dar maior valor a ela.

O polvo, fêmea, parece ter contribuído para que a pulsão de vida de Foster, se mostrasse novamente mais presente.

O contato com a natureza parece ter tido o poder de apaziguar seu ego. Se a água costuma representar o nosso inconsciente, é através do oceano e desses encontros com o polvo que podemos fazer uma analogia fantástica com a psicanálise. Esses mergulhos de Foster nos remetem às idas do analisando ao encontro do seu inconsciente, na busca de um resgate de si mesmo para melhor lidar com a vida, tornando-a mais leve. Ele então se reencontra e faz as pazes consigo mesmo.

Foster, além de conseguir acompanhar quase o ciclo inteiro de vida de um animal selvagem, em seu habitat natural, conseguiu ganhar sua confiança (analogia à transferência da psicanálise)

E se formos falar de amizade, ela não é um sentimento exclusivo dos humanos. Pesquisas científicas já comprovaram que algumas espécies de animais também criam laços afetivos, seja como uma demonstração de carinho ou uma ajuda para aumentar sua chance de sobrevivência. Quem diria, porém, que seria possível existir a amizade entre um homem e um polvo?

Cada relação que construímos ao longo da vida é única. E essa singularidade se deve ao simples fato de que o ser humano é um ser único. E é você, ser único, quem as constrói.

E se a morte é inevitável ela não é o fim.

O ciclo fascinante da natureza, do qual fazemos parte, é este: morte e vida. Freud já nos explicou isso muito bem. A busca do nosso aparelho psíquico pela homeostase nos leva em última instância a desejar o estado de absoluto equilíbrio, o nirvana (a morte). Como matérias orgânicas, nascemos e morremos, nos tornando parte de onde viemos: da natureza.

O corpo morre, mas se torna matéria para outras formas de vida. Também nos mantemos vivos quando deixamos para trás algo de nós: seja um ato, uma memória ou uma nova geração.

Nota:

Ao terminar de gravar, o cineasta fundou o “Sea Change Project”, uma comunidade dedicada à proteção do bosque de algas, cujo objetivo é cuidar do meio ambiente marinho da África do Sul. Tudo isso graças aos ensinamentos de um polvo que lhe transformou a vida.

 

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