“Não mexa no meu objeto transicional!”

Publicado dia 26 de dezembro de 2019
Essa semana fui surpreendido com um pedido de minha nora Ana, me perguntando onde eu havia comprado uma girafinha com um mordedor, que eu havia dado à minha neta quando ela completou quatro meses de vida, no mês de setembro.
 
Fiquei intrigado e perguntei o motivo. E ela respondeu que minha neta só dormia com esse brinquedo, e que é o brinquedo de que ela mais gosta, e não larga nunca. Como está sujo e precisa ser lavado, precisa de outro para que ela não chore pela ausência da girafinha. Não tive dúvidas: como avô babão que sou, fui à loja e comprei outro exatamente igual.
 
Compreendendo o apego ao objeto
 
Expliquei para minha nora que em Psicanálise chamamos esse fenômeno de “objeto transicional” (ou “objeto de transição”), observado por Donald Winnicott, pediatra e psicanalista inglês.
 
Winnicott descobriu que a criança, desde o seu nascimento, não tem consciência de que ela e a mãe são pessoas diferentes. No período entre quatro e seis meses de idade, que é geralmente quando o bebê percebe a mãe não é uma extensão de si mesmo, parte integrante dele, bebê, e que sim, ambos estão separados, a criança então elege um objeto para suprir a ausência temporária da mãe. Um objeto que está sempre ao seu alcance.
 
Trata-se de um mecanismo muito importante para o desenvolvimento emocional da criança.
Este objeto pode ser um brinquedo (como nesse caso da minha neta) ou, como na maioria das vezes, o “naná “(fralda ou lenço), ou mesmo a chupeta.
 
Nem toda criança precisa ter ou eleger um objeto transicional, mas quando isto acontece, devemos encarar de maneira absolutamente natural, e o importante é deixar que ela escolha livremente o brinquedo ou objeto que será investido desta função, de acordo com o que ele representar para ela – um aroma, uma imagem, um som que o façam sentir ou recordar a presença da mãe, transmitindo-lhe assim o respectivo conforto e apoio.
 
A importância do objeto transicional
 
Esse comportamento da criança não deve ser inibido pelos pais, pois através deste objeto, o bebê vai se sentindo confiante para conhecer o mundo à sua volta e a se conhecer também, descobrindo suas possibilidades e limites.
 
A escolha do objeto, quando ocorre, é perfeitamente saudável e ajuda a criança a lidar também com a ansiedade pela ausência da mãe.
 
O momento de largar o objeto
 
Normalmente as crianças largam o objeto transicional até os cinco anos, embora isso às vezes possa ocorrer antes, ou até mesmo um pouco mais tarde.
 
Não há necessidade por parte dos pais de apressar este processo, mas aos poucos eles podem ajudar a criança a lidar com suas angústias sem que ela precise se apegar a um objeto para tranquilizar-se.
 
O melhor a fazer é oferecer espaço para que a criança possa expressar abertamente seus sentimentos, e desta forma ir se sentindo segura, para, aos poucos, sem mesmo dar-se conta, desligar-se naturalmente do objeto.