O ano da esperança
Publicado dia 29 de dezembro de 2020
Maristela Napolitano
O ano de 2020 não foi fácil para muitas pessoas. Ruas desertas, escolas fechadas, empresas paradas. O mundo parado.
Uma nova experiência, desafios inimagináveis.
Para alguns, os desafios foram físicos, tanto para quem foi contaminado ou viu pessoas ao redor serem contaminadas, como para os que tiveram que se separar fisicamente de entes queridos, momentânea ou definitivamente. Para outros, o desafio foi na economia, que sentiu o peso da quarentena sem fim. Salários reduzidos, empregos cortados, empresas em dificuldades. O desafio de transportar para ambientes online praticamente todas as esferas da vida.
De todos, um desafio universal: a saúde mental. Não há quem não tenha se deparado com dificuldades no gerenciamento das emoções diante de um contexto tão estressante e imprevisto.
Lidar com o novo nunca foi tão necessário.
Uma nova forma de interagir, de ocupar espaços, de comer, de estudar, de trabalhar, de sair e chegar em casa, enfim, de entender e aceitar todas as limitações impostas: espaciais, financeiras ou emocionais. Desenvolver recursos para lidar com a tristeza de todas as perdas: de pessoas queridas, de empregos, de liberdade, de ir e vir livremente, de um ar sem contaminação.
Cada um reagiu dentro de suas próprias possibilidades, esperançosos ou agressivos, intolerantes ou deprimidos, mas certamente todos apresentaram níveis de ansiedade alterados. Segundo pesquisa da UFGRS (Univ.Federal do Rio Grande do Sul), 80% da população brasileira se tornou mais ansiosa durante a pandemia.
E também essa foi uma nova ansiedade. Não aquela ânsia pelas conquistas financeiras, pelo tempo livre para estar em casa ou pelas férias. De repente, nos vimos com abundância de tempo livre – que chegou a levar-nos ao tédio. Estar em casa passou a ser um transtorno para muitos que tiveram que se “re-conhecer” dentro do mesmo espaço por tanto tempo, eram estranhos familiares. Para os que tinham dinheiro, faltou o propósito para gastá-lo.
Talvez o grande consenso é de que passamos a vida desejando o que não temos e, como areia escorrendo pelo vão dos dedos, os dias nos escapam sem serem vividos, porque nosso foco estava no que falta.
Com o ano se acabando, focamos nosso olhar no que propiciamente a virada sugere: sentimentos positivos e de esperança.
Esperar por melhores dias, na certeza de sairmos resilientes dessa experiência que incontestavelmente impõe uma revisão de conceitos e valores que, por sua vez, pressupõe entendimento e gratidão pelas oportunidades de aprender com as lições do passado.
Aprender que, muito mais do que trabalhar incessantemente, é preciso parar para celebrar a vida em seus pequenos acontecimentos. Perceber que “poder fazer” vem antes de “ser reconhecido pelo que se fez” e que antes de vencer é preciso estar ali para participar. Dar-se conta de que passar a vida esperando o final de semana é muito pouco, que talvez seja necessário um sentido para os dias que correm, independentemente de como são nomeados. Para os que não viam sentido na vida, poder estar vivo talvez possa ter sido a resposta tão buscada.
E talvez o maior aprendizado seja simplesmente uma constatação: num dia temos, no outro podemos não ter mais. Portanto, viva o agora, agradeça por todas as pequenas coisas, livre-se da pré-ocupação do que pode nem se realizar. Conecte-se com o bem, com a amor, com a vida.
Feitas todas essas reflexões, a título de um balanço que nos ajude a encontrar os sonhos e expectativas que realmente importem a cada um, é hora de contemplar a esperança em novos tempos, que sempre acompanha as viradas de ano. E há bons motivos para essa esperança: as vacinas que começam a surgir mundo afora, o fato de já estarmos um pouco mais preparados agora para lidar com situações como essa, e sobretudo a imensa vontade retomarmos a vida de antes. Enfim, se éramos felizes e não sabíamos, ao retornarmos ao que perdemos neste ano estaremos cientes dessa felicidade, e poderemos aproveitá-la e cultivá-la ainda mais.
Nós da i-PSI desejamos que o novo ano seja um tempo de valorizar tudo o que você já tem.
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