Jéssica Kuhn indica “Nunca, raramente, às vezes, sempre”

Publicado dia 8 de abril de 2021

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“Nunca, raramente, às vezes, sempre”
Nacionalidade: Estados Unidos, Reino Unido
Ano: 2020
Direção: Eliza Hittman
Gênero: Drama
Duração: 1:41
Plataforma: Telecine, Now, Google Play,  Claro Video, Apple TV, Looke

“Nunca, raramente, às vezes, sempre” é um título curioso, mas que se justifica na cena mais dura desse filme humanista da diretora e roteirista Eliza Hittman. O longa mostra toda sua força ao contar uma história de gravidez indesejada na adolescência com poucos diálogos e muitos momentos simbólicos que não sairão da memória.

Autumn (Sidney Flanigan) tem 17 anos,. trabalha como caixa em um supermercado rural de Pennsylvania. Grávida e sem alternativas viáveis para poder realizar un aborto em seu próprio estado, ela e sua prima Skylar (Talia Ryder) pegam um ônibus para Nova York. As duas adolescentes contam apenas com o endereço de uma clínica anotada em um pedaço de papel.

“Nunca, raramente…” aborda as pequenas e grandes violências sofridas pelas mulheres, em qualquer faixa etária e classe social. É no silêncio da resposta de uma pergunta que não precisa ser respondida, na forma com que muitos dos homens do filme não percebem seus abusos… que essa situação se desnuda.

A direção e o roteiro de Hittman dão o tom humanista. Sem fazer julgamentos, nos mostra os personagens sem quaisquer filtros, um recurso muito eficiente e importante sobretudo quando o filme trata as violências sofridas por Autumn e Skylar.

A solidão é outro tema presente no filme. Autumn passa pelo processo solitário de se ver grávida na adolescência sem poder contar com sua família, solta em uma cidade como Nova York que está sempre cheia de pessoas que parecem estar o tempo todo sozinhas, e depois há ainda a clínica, que faz de tudo para forçar as mulheres a não abortarem.

O sentido amplo da mensagem “ninguém larga a mão de ninguém”, da sua representatividade e importância para milhares de mulheres no Brasil e no mundo, fica bastante claro nesse filme.

E se não é possível compartilhar a dor, ninguém é obrigado a aguentar tudo sozinho. Não é mesmo? O filme também deixa isso evidente ao explorar os momentos de alívio e pequenas alegrias compartilhados entre as duas adolescentes, assim como os pequenos gestos de pessoas ao redor.

A psicanálise sabe da importância da escuta atenta desse silêncio que grita. Muitas vezes é a partir dessa escuta que surge a possibilidade de tornar dizível o indizível, de falar sobre nosso sofrimento e assim nos curarmos das nossas mais profundas dores.