A mente e a (re)criação da realidade

Publicado dia 16 de janeiro de 2020
Mente é o conceito utilizado para definir as funções superiores do cérebro relacionadas à cognição e comportamento. A palavra provém do latim mens e mentem. Este último, um verbo que significa pensar, conhecer, entender.
 
Filósofos, estudiosos e sábios de todos os tempos dedicaram grande parte de sua vida a entender os mistérios da mente humana, da consciência, do pensamento, da intuição, da inteligência.
 
Um dos mais populares livros sobre o funcionamento da mente humana foi “O Poder do Subconsciente” de Joseph Murphy. Publicado em 1963, atraiu inúmeros outros autores da segunda metade do século XX a pesquisarem e escreverem sobre o tema, pois perceberam o grande interesse que haveria para o Homem, como espécie, e para o público, em geral, no domínio e o manejo da mente para conquistar seus objetivos.
 
O jardim de nossa mente
 
Joseph Murphy baseou seu livro numa metáfora em que a mente é um jardim e é necessário entender que o que se planta neste jardim é o que nele irá crescer.
 
O autor já tinha conhecimento dos estudos de Freud que mostravam a divisão da mente em uma parte consciente e outra inconsciente e que, na verdade, essa última é predominante. A imagem do iceberg é usada para representar essa teoria de Freud, na qual a superfície visível (o consciente) é apenas 20% do todo, ou seja, a parte da mente comumente acessada é apenas uma pequena fração.
 
Murphy popularizou este conhecimento no século passado e, desde então, a ideia de programar a mente de forma a usar todo seu potencial tem se tornado mais relevante. Com essa finalidade, muitas técnicas foram desenvolvidas, como visualização criativa, programação neurolinguística, autossugestão, eliminação de crenças limitantes, métodos quânticos de reprogramação da mente, entre outros.
 
Busca do autoconhecimento
 
Explorar toda a capacidade da mente, entretanto, está intrinsicamente relacionado ao autoconhecimento. Essa conexão está exemplificada no antigo aforismo inscrito na entrada do Templo de Apolo, em Delfos, que diz: “Conhece-te a ti mesmo, e conhecerás os deuses e o universo”. Os pensadores da época sabiam que, através do conhecimento de si, o ser humano poderia superar barreiras como ignorância, dor e sofrimento.
 
Para conhecer-se verdadeiramente, é preciso compreender o próprio funcionamento, a atuação, da mente frente às realidades externa (mundo) e interna (conteúdos e experiências próprias). É necessário acessar o inconsciente, mergulhando para enxergar a parte escondida do iceberg. Empreender essas incursões permite entender o motivo de determinadas ações ou de diferentes respostas a estímulos externos e internos, e também a razão de escolher alimentar um dado objetivo ou impedir que ele se torne uma realidade.
 
Sem esta jornada em busca do conhecimento dos próprios conteúdos inconscientes, fica-se sujeito a essa parte “desconhecida” da mente, que agirá, de forma automática, em relacionamentos e situações da vida.
 
Crenças limitantes
 
Sabe-se que crenças limitantes devem ser eliminadas para se alcançar o que se deseja. Entretanto, não há como abordar crenças sem realizar uma análise de si, sem observar comportamentos repetitivos e sem perceber os sentimentos diante de frustrações e vitórias. Só assim será possível identificar ganhos, até então despercebidos, que impedem a eliminação de comportamentos negativos, já que fazem com que estes “valham a pena”.
 
O ego é resultante de experiências e suas consequentes introjeções e identificações, ocorridas, principalmente, nos sete primeiros anos de vida. Nesta fase, a percepção do ocorrido sobre si e sobre pessoas ao redor definem a ‘persona’, como se criassem modelos mentais que, quando acionados, agem através e apesar da própria autonomia. É como se houvesse uma programação interior de funcionamento que nem sempre está de acordo com o desejado conscientemente.
 
O “porquê” dos pensamentos
 
Dado esse modus operandi, buscar controlar a mente programando-a e direcionando-a para um determinado objetivo pode não ser suficiente. Então, se faz necessário compreender o porquê de se pensar de certa maneira, de existirem pensamentos recorrentes, de se repetir padrões de comportamento e de se estar impotente diante da mente.
 
A busca do autoconhecimento não é um fim em si mesmo, mas um processo incessante que torna possível a apropriação, de fato, dos próprios pensamentos e direcionamentos destes para aquilo que se deseja obter.
 
A psicanálise é uma ferramenta eficaz que proporciona o conhecimento e compreensão de si mesmo, possibilitando o acesso à parte submersa do iceberg. Ela age como uma lanterna, que permite enxergar os problemas em seu tamanho real e não em seu tamanho percebido pela criança que habita cada indivíduo. Esse método é um instrumento relevante que viabiliza o conhecimento do próprio funcionamento. Isso conduz a pessoa ao domínio de seus pensamentos para, então, reprogramá-los de forma definitiva.
 
Somente em terra fértil (mente com conteúdos acessados) e bem trabalhada (com ferramentas como a psicanálise) será plausível semear, no jardim de Joseph Murphy, pensamentos positivos que culminem em uma mente sadia.
 
A mudança deve ocorrer de dentro para fora, gerando novos significados para experiências e vivências que eram inconscientes. Essa transformação se dá através da sabedoria advinda da verdadeira compreensão de si mesmo.