A Psicanálise e o amor

Publicado dia 9 de junho de 2020
Jéssica Kuhn
O dia dos namorados está chegando e com ele as atenções novamente se voltam para o romance, a paixão, o amor… tópicos sempre muito explorados pela literatura, o cinema, as artes em geral. Mas o que será que os estudos sobre a mente têm a dizer a respeito destes temas?
 
Uma pesquisa de grande repercussão realizado em 1997 pelo psicólogo social Arthur Aron, da Universidade Estadual de Nova York, afirmava ser possível fazer com que duas pessoas desconhecidas se apaixonassem uma pela outra em poucas horas.
A técnica, relativamente simples, conseguiu formar alguns casais duradouros, uma das razões pelas quais tem sido utilizada até hoje, quase 30 anos após o experimento
Sentados frente a frente, os dois membros de um casal improvisado eram convidados a responder a 36 questões, revelando assim pormenores íntimos e particularidades de cada um. Para finalizar o processo, eles tinham ainda de olhar nos olhos um do outro durante quatro minutos, em absoluto silêncio e sem desviarem o olhar. O resultado final era variável, mas já houve até quem se casasse!
O pesquisador identificou um padrão na construção de relacionamentos amorosos, onde demonstrar vulnerabilidades mútuas gera proximidade e intimidade. Esse parece ser o segredo ou “a fórmula científica” do amor.
Imagino que a essas alturas você deve estar curioso… Mas o dr. Aron alerta: é importante não conhecer previamente as perguntas, é preciso respondê-las de improviso.
Se mesmo assim você quiser se arriscar a conhecê-las de antemão, procure por “Aron 36 questões” no Google.
E para a Psicanálise, o que é o amor? Como ele é visto, compreendido, interpretado e analisado no contexto dos estudos sobre o inconsciente?
O amor sob o olhar freudiano
Também nesta disciplina, o amor se presta a visões diferentes, e elas não são exatamente “românticas”.
Começando pelo seu fundador, Sigmund Freud, para quem o primeiro objeto de amor é a mãe ou o seu substituto, ou seja, aquele ou aquela que cuida de nós. Assim, as relações amorosas que travamos ao longo da vida adulta buscam reproduzir as experiências vividas na infância. Isso mesmo, o apaixonado quer a todo custo reconquistar o paraíso perdido no início de sua existência.
Embora Freud tenha prognosticado que é preciso amar para não adoecer, a paixão é vista por ele como destrutiva. E é só por isso que não nos apaixonamos o tempo todo!
A paixão seria uma doença narcísica onde o sujeito buscaria sua completude através de um objeto idealizado. Em outras palavras, quando nos apaixonamos temos a fantasia doentia de ter encontrado a nossa “metade da laranja”, embora a realidade nos afirme que não somos laranja e muito menos metades complementares de alguém.
O amor sob o olhar lacaniano
Já para o psicanalista francês Jacques Lacan, que representa outra grande vertente da Psicanálise, o amor é narcísico, ao levar-nos a procurar no outro a nossa própria imagem. E amar significa dar o que não se tem para alguém que não quer o que a gente dá.
Não podemos esquecer que a interpretação lacaniana é fundada na linguagem, assim o problema consiste no diálogo impossível entre um sexo e outro, estando os amantes condenados a aprender indefinidamente a língua do outro, nesse labirinto de mal-entendidos onde a saída não existe! E é exatamente essa a razão de sofrermos tanto por amor, sofremos pela comunicação entre os amantes que é difícil de ser traduzida e entendida.
E não pense que o problema deixa de existir quando o relacionamento é entre pessoas do mesmo sexo. O diálogo é a base de toda relação. Então saia um pouco da defensiva e tente compreender e ouvir outro ponto de vista! Afinal, o seu amor tem outra história de vida por mais semelhanças que possam haver entre vocês!
O amor sob o olhar de Jacques-Alain Miller
Outra visão psicanalítica interessante é a do psicanalista francês Jacques-Alain Miller, que sustenta, que ao amar, a pessoa acredita que alcançará uma verdade sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva – ou nos dá – a resposta – à nossa mais primordial questão: “Quem sou eu”?
Mas afora as interpretações e explicações “técnicas” apresentadas até aqui, o importante mesmo sobre o amor parece ser o convite: “permita-se vivenciar um grande amor”. Esta será a sua forma de construir o seu próprio olhar sobre o tema.
Então, como dizia Freud no início de cada sessão: “vamos começar?”
Feliz Dia dos Namorados!