Borderline: vivendo no limite
Publicado dia 30 de janeiro de 2020
O termo “borderline” (“limítrofe”, em português) foi usado pelo psicanalista húngaro-americano Adolph Stern em 1930 para descrever uma patologia no limite entre a neurose e a psicose. A pessoa diagnosticada como borderline encontra-se numa linha tênue entre “sanidade” e “loucura”. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, é um transtorno de personalidade e uma das doenças que mais levam ao suicídio.
Esse transtorno é caracterizado especialmente pela oscilação entre sentimentos de entusiasmo e de grande vazio, tédio e raiva, crises de ansiedade, despersonalização, impulsividade (muitas vezes autodestrutiva), conduta suicida, dissociação mental, comportamentos manipuladores e chantagistas.
O borderline é comumente visto como rebelde e problemático e o transtorno pode ser confundido com depressão e transtorno bipolar.
Uma “montanha-russa” de emoções
Os relacionamentos, para um borderline, são instáveis e intensos, resultado da alternância entre idealização e desvalorização, característica desse transtorno. O borderline tem um estilo diferente de relacionar-se com o mundo, com ações pautadas na emoção, como uma criança. Assim, transitam entre um comportamento adulto e um infantil. Sua interação social causa sofrimento para ele e para as pessoas ao seu redor, por causa da sua instabilidade de humor: por um momento pode amar uma pessoa que conheceu e odiá-la no dia seguinte, caso ela faça algo que não corresponda às suas expectativas – fantasiadas e idealizadas – e possa ser interpretado pelo borderline como rejeição.
É comum um borderline ficar rapidamente íntimo de alguém e, em pouco tempo, cortar relações. Sentimentos de grande ternura variam para frieza, raiva e até crueldade. Para um borderline, as relações são de amor ou ódio, tudo ou nada.
O peso da rejeição
No dia a dia o borderline evita, de qualquer modo, a rejeição. Uma mudança de agenda, inclusive a do terapeuta, pode causar sofrimento e despertar uma crise de irritabilidade exagerada, geralmente seguida de um sentimento de culpa pelo surto ocorrido.
Por sentir-se incapaz ou inapropriado, pode trocar de aparência, crença, valores e carreira em curto espaço de tempo. A perturbação com sua identidade e a instabilidade de sua autoimagem ou da percepção que tem de si mesmo também são comuns. São esforços para evitar o abandono, seja ele real ou imaginário.
Fuga eterna do vazio e do tédio
O borderline convive com sentimentos crônicos de vazio existencial e tédio por uma vida sem sentido, um buraco impossível de ser preenchido. Na tentativa de livrar-se desses sentimentos, está sempre buscando algo novo para fazer e pode, repentinamente, mudar de emprego, faculdade ou relacionamento.
Comumente recorre a comportamentos impulsivos – buscando alívio imediato – como compras exageradas, bebidas, jogos, drogas, condução perigosa de veículos ou comportamentos sexuais de risco.
Outro traço característico do borderline é a raiva, súbita e intensa, com reações desproporcionais que podem culminar em agressões (ou autoagressões) físicas a entes queridos ou desconhecidos, seguida geralmente de grande culpa, que reforça o sentimento de inadequação.
As dores do borderline
É comum o borderline praticar a automutilação, cortando, furando ou queimando o próprio corpo, buscando na dor física o alívio da sua dor psíquica, liberando endorfinas e desviando a atenção de seu sofrimento psíquico.
Em situações de estresse, o borderline pode se sentir alvo de conspirações e perder contato com a realidade, entretanto estes sintomas são transitórios.
Também são frequentes as ameaças de suicídio, passível de ser consumado, de forma impulsiva (não planejada), num ápice de sofrimento.
Em busca da estabilidade
Pesquisadores apontam disfunções no metabolismo cerebral e uma predisposição genética como causas para o transtorno. É comum encontrar familiares com o mesmo problema.
Psiquicamente, os transtornos são resultado de uma sobreposição de fatores registrados como traumáticos (abusos sexuais ou emocionais) na psique da criança e o diagnóstico pode ser demorado.
Com frequência o portador do transtorno necessita estar medicado com antidepressivos e estabilizadores do humor. O suicídio consumado é quase sempre resultado da falta de tratamento psiquiátrico e terapêutico. A psicoterapia é indispensável e deve ser motivada pela família, pois a elaboração da sua fala e dos seus pensamentos ajuda a lidar melhor com as situações cotidianas e fortalecer seu ego e autoestima.