Jéssica Kuhn comenta “A grande beleza”
Publicado dia 4 de junho de 2020
i-PSIne 🎬:
“A grande beleza”
Nacionalidade: Itália
Ano: 2013
Direção: Paolo Sorrentini
Gênero: Drama, comédia
Duração: 2:52
Plataforma: Now, Google Play, You Tube, Vivo Play, Apple TV

Provocante, divertido e de grande impacto visual, o filme, que flerta com o universo do consagrado diretor italiano Federico Fellini e levou o Oscar de melhor longa estrangeiro em 2014, faz uma forte crítica à sociedade atual, enquanto confronta a perenidade da arte com a transitoriedade da vida.
O escritor Jep Gambardella (Toni Servillo) vive da fama e vagueia pelas festas da alta sociedade romana. Aos vinte anos escreveu seu único e elogiadíssimo livro, mas afastou-se da literatura para tornar-se um misto de jornalista cultural e colunista social. Em Roma, durante o verão, ao completar 65 anos faz um balanço de sua vida.
Através de diálogos inteligentes, tece-se uma crítica ácida à sociedade de consumo, à mídia e ao mercado de arte, que juntos procuram reduzir a arte a item de consumo de luxo, fabricando falsos gênios artísticos.
Jep esconde atrás de seu sorriso irônico e de todo seu sarcasmo a melancolia do artista, dotado de uma grande sensibilidade e, por isso mesmo, condenado ao tédio! Ainda que sua rotina seja o que outros chamam de “diversão”.
Jep não conseguiu escrever seu segundo livro alegando estar em busca da “grande beleza”, que ele nunca encontrou. Essa beleza que Jep não consegue ver por estar imerso nela, para a Psicanálise é o que constitui o seu sintoma.
Freud, em “O Mal Estar da Civilização”, considera a beleza como uma das formas de combater o sofrimento, uma suave embriaguez, na verdade, pouco eficiente. E conclui que a Psicanálise tem pouco a dizer sobre ela. Para Lacan, a beleza é um ardil, uma última barreira que o sujeito ergue antes da pulsão de morte. E é no choro convulsivo e sem palavras de Jep na memorável cena do enterro que a pulsão de morte comemora sua vitória sobre a vida.

Lisa