Jéssica Kuhn comenta “Que mal eu fiz a Deus?”

Publicado dia 16 de abril de 2020
i-PSIne 🎬:
“Que mal eu fiz a Deus?”
Nacionalidade: França
Ano: 2014
Direção: Philippe de Chauveron
Gênero: Comédia
Duração: 1:36
Plataforma: Netflix, Apple TV, Now, Google Play, YouTube
 
 
O tema é sensível, e diante da intensificação dos movimentos migratórios em anos recentes, se faz presente nos mais variados contextos sociais mundo afora. Em muitos casos, o medo do desconhecido ajuda a explicar a força dos preconceitos étnicos, raciais, religiosos. A exposição ao Outro que nos parece “diferente” pode ser a melhor maneira de percebermos o quanto somos semelhantes.
Abordar tais questões numa comédia poderia não parecer uma boa ideia. Afinal é necessária muita habilidade para manusear estereótipos capazes de fazer rir sem ao mesmo tempo reforçá-los. Pode até ser que seja o caso de uma ou outra cena aqui, mas o que mais vemos neste roteiro é a transformação em estereótipo do próprio ato de recorrer a eles como justificativa para ações que sem eles não fariam qualquer sentido.
E isso é feito com um humor divertidamente ácido, que flagra contradições e inconsistências que poderiam jazer latentes mesmo nas ações de pessoas atentas ao problema, dispostas a não eternizá-lo. Olhar para a questão ao mesmo tempo com proximidade e distanciamento – com o filtro do senso de ridículo potencializado pelo humor – permite que nos coloquemos na pele de cada um dos diferentes personagens e tenhamos uma dimensão mais nítida dos motivos e dos efeitos de cada atitude exibida na tela.
Um casal católico muito tradicionalista e apegado ao que vê como valores “nacionais” franceses experimenta surpresas sucessivas – e, para eles, desoladoras – diante das escolhas sentimentais de cada uma das quatro filhas.
Mas este não é o único ponto de vista explorado, o filme se beneficia muito das nuances obtidas quando se revela o modo como a questão é percebida e sentida pelos demais personagens. Sem falar na ótima direção e excelentes interpretações.
Enfim, um mergulho que consegue ser leve e divertido no tema de como se dá a nossa percepção em relação ao que nos é diferente. Um mergulho que você não pode perder!
 
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