Jéssica Kuhn comenta “Um conto chinês”

Publicado dia 21 de maio de 2020
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“Um conto chinês”
Nacionalidade: Argentina
Ano: 2011
Direção: Sebastián Borensztein
Gênero: Comédia dramática
Duração: 1:33
Plataforma: Telecine (até 31 de maio)
Vacas caem do céu? Quão absurda pode ser a vida?
Na Argentina, quando se diz “un conto chino”, significa que se está diante de uma mentira ou mesmo de um delírio.
Pois o enredo desse curioso e delicado filme, que mais se parece com uma fábula contemporânea multicultural, se baseia em uma inusitada história verídica, conforme nos informam os créditos finais. Sim, o roteiro se fundamenta em uma notícia divulgada pela TV russa.
Roberto (Ricardo Darín), veterano da Guerra das Malvinas, vive recluso em sua casa há mais de 20 anos até que um estranho evento o traz de volta à vida. A partir daí, esta se encontra com a do chinês Jun (Ignacio Huang) que está perdido em Buenos Aires. E através de uma convivência forçada, esses dois homens, de culturas tão diferentes, irão conhecer a resolução de seus problemas.
O que vemos nesse filme é como o inesperado pode interferir em nossas vidas e causar mudanças radicais em nós. E, sobretudo, como cada um consegue lidar com isso, o que é sem dúvida o ponto central da questão para a Psicanálise.
Luto, retraimento e regressão se apresentam no filme através da perda de uma relação significativa (Jun) e da ausência de um vínculo básico (Roberto): duas circunstâncias da nossa condição. E é na fronteira do inesperado e do desconhecido que o filme se desenvolve, onde solidão, solidariedade, amor e abandono, sentimentos muito humanos e temas comuns a todas as culturas, estão presentes.
Há ainda o choque cultural, a carência dos personagens, a necessidade de ajudar o outro para não ter que pensar em seus próprios problemas… uma temática ao mesmo tempo específica e universal.