Jéssica Kuhn comenta “Um método perigoso”
Publicado dia 7 de maio de 2020
i-PSIne 🎬:
“Um método perigoso”
Nacionalidade: Reino Unido/Irlanda do Norte
Ano: 2011
Direção: David Cronenberg
Gênero: Drama
Duração: 1:39
Plataforma: Apple Play, Amazon Prime Vídeo, Facebook Watch
Baseado na peça teatral “The Talking Cure”, do britânico Christopher Hampton, que por sua vez foi inspirada no livro de John Kerr, “A Most Dangerous Method”, o filme de título homônimo reúne atores conhecidos em torno de episódios reais.
A obra traz um pouco da história da Psicanálise e do início da Psicologia Analitica, bem como parte das biografias de Sigmund Freud, Carl Jung (jovem psiquiatra e discípulo de Freud), do psiquiatra Otto Grass e da paciente Sabine Spielrein, que após seu tratamento torna-se uma renomada psicanalista – uma das primeiras mulheres na História a desempenhar tal atividade. O caso permitiu a comprovação, por Jung, em uma de suas primeiras pacientes, da tese de Freud, de que o desejo sexual é o que move o nosso comportamento.
O filme se dedica a mostrar a terapia de Sabine e seu impacto na relação entre os dois analistas. Sob orientação de Freud (Viggo Mortensen), Jung (Michael Fassbender) começa a aplicar um tratamento nada ortodoxo em sua jovem paciente Sabine (Keira Knightley), de 18 anos. Jung verá algumas de suas ideias se chocarem com as de Freud, ao mesmo tempo em que se apaixona pela paciente.
Com traços de ninfomaníaca, Sabine entende que seus desejos sexuais são “errados”, se culpa por eles e os reprime, o que lhe causa um grande sofrimento psicológico. Ao conter seus desejos sexuais mais primários, fará com que eles se manifestem através da histeria.
Fica clara a relação transferencial erótica que ocorre entre a paciente e seu psicanalista, como também o desejo incestuoso de Sabine pelo pai – o célebre “complexo de Édipo”, bem como sua estrutura masoquista.
Podemos também traçar uma analogia envolvendo os três personagens principais masculinos e a Teoria da Personalidade, de Freud. Otto (Vincent Cassel) estaria sendo apresentado como o ID (desejos, vontades e pulsões, a busca pelo prazer, a impulsividade), Freud como o Superego (aquele que aponta, alerta para o comportamento inadequado, não moralmente aceito pela sociedade) e Jung seria o Ego, um mediador entre ID e Superego (a racionalidade).
Há ainda no filme várias referências ao Holocausto, como quando Jung toca Wagner para uma plateia petrificada, o que nos faz pensar sobre o que Freud chamou de “trabalho de luto”: transformar o indizível em verbo, para superar o trauma.
Um dos grandes atrativos do filme, especialmente para quem se interessa por psicanálise, é poder acompanhar Freud e Jung analisando um ao outro, ambos analisando a si mesmos, enquanto suas diferenças são catalisadas por uma jovem paciente que anos mais tarde viria a se tornar uma psicanalista de grande destaque.