Jéssica Kuhn indica “A ausência que seremos”
Publicado dia 27 de janeiro de 2022
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“A ausência que seremos”
Nacionalidade: Colômbia
Ano: 2020
Direção: Fernando Trueba
Gênero: Drama, biografia
Duração: 02:16
Plataforma: Netflix
“A ausência que seremos” retrata os anos de chumbo da ditadura colombiana. Mas não apenas isso. O filme dirigido pelo espanhol Fernando Trueba mergulha em uma tragédia particular – o assassinato do médico colombiano Héctor Abad Gómez, em Medellín, 1987 – ocorrida na década mais trágica da história da Colômbia.
O filme se baseou no livro escrito por seu filho Héctor Abad Faciolince, considerado um dos maiores escritores colombianos da atualidade, que sob o título “El olvido que seremos” vendeu centenas de milhares de exemplares em todo o mundo, obtendo elogios de grandes escritores da estatura de JM Coetzee.
O filme é um misto de auto biografia, de biografia paterna, relato histórico da Colômbia e da violência política naquele país, além de um exercício de reflexão sobre a vida, a família e o profundo amor que um pai pode sentir por seu filho e vice-versa.
Abad Faciolince demorou quase vinte anos para colocar em palavras o trauma da perda do pai. A perda daquele que já desde sempre era seu herói! Em suas próprias palavras: “ Eu pus essas memórias para fora, como se fosse um parto, como se remove um tumor”.
Ao contar a vida de seu pai, que é também a vida de sua infância e juventude, a de sua família e a de uma casa onde viviam “dez mulheres, um menino e um homem “, como diz o livro assim que começa a primeira frase, ele – como num processo de análise – pode ressignificar tudo isso e elaborar seu trauma. É preciso falar sobre isso, é preciso falar para se curar. Por isso a psicanálise é conhecida como “a cura pela fala”.
E por que o título “O esquecimento que seremos “?
Um fragmento do poema “Epitáfio”, de Jorge Luis Borges, que o filho encontrou num papel manuscrito no bolso do paletó no dia da sua morte, inspirou o título da obra, e o poema foi escrito no túmulo do pai:
“Já somos o esquecimento que seremos. / O pó elementar que nos ignora … Não sou o tolo que se agarra / ao som mágico do seu nome; / Penso com esperança naquele homem / que não saberá que estive na terra. / Sob o indiferente azul do céu / Esta meditação é um conforto”.
A vida de um pode iluminar a vida de muitos outros e, neste caso, a história de seu pai é também a vida política de seu país, a Colômbia, em um contexto de enorme violência civil e convulsão social.
Uma história íntima, um drama pessoal e eminentemente humano. Uma vida que, sem dúvida, merece ser contada e lembrada. Desvelar o significado dessa morte e sua relevância é uma das missões desse filho, que soube honrar o nome do pai e não permitir que fosse esquecido, jamais.
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