Jéssica Kuhn indica “A caça”

Publicado dia 23 de dezembro de 2021

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“A caça”
Nacionalidade: Dinamarca
Ano: 2012
Direção: Thomas Vinterberg
Gênero: Drama
Duração: 01:55
Plataforma: Prime Vídeo, Looke

Encabeçando com Lars von Trier o movimento cinematográfico chamado “Dogma 95”, o diretor dinamarquês Thomas Vinterberg (“Submarino”, “Querida Wendy”) retoma, em “A Caça” (“Jagen”, 2012), temas e nuances sociológicas presentes em suas obras iniciais, especialmente em  “Festa de Família” (1998). a primeiras delas.

Lucas (Mads Mikkelsen), um querido professor de uma escola infantil em uma pequena comunidade dinamarquesa, divorciado e sem a guarda do filho, se diverte caçando com os amigos (uma tradição local). Tudo corre bem, até que um dia a pequena Klara (Annika Wedderkopp) conta algo à diretora da escola que faz com que ele seja afastado do trabalho e, mesmo sem que haja algum tipo de comprovação, passe a ser perseguido pelos habitantes da cidade onde vive.

Vinterberg conduz a história em uma tensão crescente. O terror que toma conta do protagonista Lucas e de cada um dos que o cercam é da ordem da natureza humana. Ainda que revoltante, é perfeitamente compreensível.

Vinterberg fez um filme sobre imagens e palavras. Tudo está naquilo que os personagens veem ou pensam ver. Uma cena desencadeia todo o processo de violência e desespero social. Uma imagem e basta. Um caso tipicamente freudiano.

E ficamos confusos. Afinal, o professor é ou não culpado? E a criança? Quem é o verdadeiro culpado, afinal? Como saber com certeza? Ou será que ninguém tem culpa?

O melhor é que não há uma acusação sumária a nenhum personagem. Não se pode entender a comunidade como vilã, nem mesmo a garotinha, que age como qualquer criança com raiva e depara-se com a vontade dos adultos.

Há uma relação entre fantasia e realidade. Do ponto de vista da psicanálise, considera-se o campo da fantasia, pertinente à sexualidade infantil acolhido por Freud. A psicanálise entende que a fantasia comporta uma verdade decisiva: a do desejo. E sinaliza a importância de se considerar a realidade psíquica que se insinua no plano da fantasia, para além da realidade factual.

Embora o final deixe a desejar, o filme é uma eficiente crônica social de uma histeria de nosso tempo. E quando a histeria se estabelece, a história nem sempre é escrita pelos vencedores. E se Lucas deixa de viver… é porque lhe arrancaram a existência.

Mas talvez você indague: e a busca pela verdade? Acontece que há verdades e verdades no universo dos discursos. Lacan justifica: “a verdade revela-se complexa por essência, humilde em seus préstimos e estranha à realidade”.

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