Jéssica Kuhn indica “A filha perdida”

Publicado dia 20 de janeiro de 2022

Jéssica Kuhn indica “A filha perdida”

 

i-PSIne 🎬:

“A filha perdida”

Nacionalidade: Estados Unidos, Grécia
Ano: 2021
Direção: Maggie Gyllenhaal
Gênero: Drama
Duração: 02:01
Plataforma: Netflix

Lançado no final de 2021 pela Netflix, “A filha perdida”, é um filme baseado no romance da enigmática autora italiana que escreve sob o pseudônimo Elena Ferrante. Cotado ao Oscar, esse longa é o primeiro dirigido pela atriz Maggie Gyllenhaal, que também assina o roteiro.

O enredo acompanha uma viagem de Leda (Olivia Coleman, atriz vencedora do Oscar por “The Crown”), uma mulher de meia-idade que é professora e está de férias nas ilhas gregas.

Como um fascinante mistério, carregado de realismo, a trama mergulha na obsessão de Leda em observar uma jovem mulher, Nina (Dakota Johnson), e sua família barulhenta. É quando seus dilemas afloram que descobrimos um pouco mais do passado da protagonista e seu conflito com a maternidade, afinal, segundo ela, “ser mãe nunca foi algo natural”.

Ser mãe foi uma das respostas formuladas por Freud à pergunta sobre o que quer uma mulher. Hoje, talvez mais do que nunca, essa resposta se transforma em uma nova velha questão que permite apreender as mais diversas declinações do desejo

Nas fantasias de Leda, Nina é a mãe perfeita. Já para ela, a maternidade, nos dois pólos, jamais foi feliz. Quando criança, sofreu com as ameaças verbais da mãe, que nunca se concretizaram mas que foram vividas por ela como quem experimenta a realidade.

Atormentada pelas próprias memórias, um ato impulsivo faz com ela mergulhe no estranho e sinistro mundo da própria mente, onde é forçada a encarar as escolhas nada convencionais que fez quando mais jovem – e suas consequências.

Leda finalmente pode acordar para a vida depois de reviver traumas antigos, que deixaram feridas abertas. Ela precisou encarar o passado, conhecer a si mesma e se enfrentar: jornada da mente que se mostra imprescindível para poder cuidar e curar nossas feridas. Leda, que parece estar em uma posição regredida e vulnerável,  encontra uma oportunidade de reviver e elaborar (“recordar”, “repetir”, “perlaborar”, nas palavras de Freud) algumas feridas antigas que permaneciam abertas. Por isso, podemos traçar um paralelo com a boneca do filme, que ao ser bem cuidada, funciona como o “objeto bom” internalizado que vai substituir a culpa do abandonado.

Dissociar-se da mãe, retornar a ela. Essa ambivalência nos constitui e movimenta; haver-se com isso é trabalho de toda uma vida.

Filme de mulheres sobre mulheres. Uma busca pelas camadas perturbadoras da maternidade e do ser mulher.

Com uma cinematografia capaz de visitar o passado com a mesma intensidade com que filma a intimidade do presente. E que assim consegue nos aproximar do universo interior de Leda: personagem difícil e “crua”, talvez por ser tão humana quanto qualquer um/a de nós.

 

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