Jéssica Kuhn indica “A mão de Deus”

Publicado dia 6 de janeiro de 2022

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“A mão de Deus”
Nacionalidade: Itália
Ano: 2021
Direção: Paolo Sorrentino
Gênero: Drama
Duração: 02:10
Plataforma: Netflix

Depois de seis anos de ausência na telona (trabalhou nas séries “The Young Pope” e “The New Pope”, de 2016 e 2019, respectivamente), Sorrentino volta com uma história extremamente pessoal, sensível, mas com muito humor e que reflete, como nenhuma outra produção de ficção, o que representou Maradona para o povo napolitano

A história, ambientada nos anos 80 e que tem como título o escandaloso comentário de Diego Maradona em referência ao seu não menos escandaloso primeiro gol contra a Inglaterra na Copa do Mundo de 1986, se centra na alegre família Schisa.

Sorrentino, napolitano, em sua juventude era fanático por Maradona, e não perdia um único jogo do camisa 10 defendendo o Napoli no Estadio San Paolo. Por isso, quando seus pais o convidaram para passar um fim de semana na casa de veraneio em Roccaraso, ele declinou do convite: preferiu viajar a Empoli para ver o camisa 10 jogando como visitante.
E assim, a sua paixão por Maradona o salvou da morte, aos 17 anos de idade.

A psicanálise sabe da importância de se falar sobre um trauma. A cura pela palavra se faz ainda mais flagrante nos casos traumáticos.

E o diretor parece que finalmente pode exorcizar seu trauma com um filme autobiográfico, no qual os Sorrentino são a familia Schisa. Mudou um ou outro nome, seu alter ego é Fabietto (Filippo Scotti), mas todos os personagens seguem sendo quem são na família.

O diretor sempre teve Federico Fellini em seu horizonte, e com “A mão de Deus” ele realiza seu própio “Amarcord”. E se não está exatamente à mesma altura do mestre, este, o genial Fellini, por sua vez, não teve que enfrentar em sua juventude um acontecimento tão trágico como aquele com o qual Sorrentino teve de lidar. O que se vê na tela é a tradução em imagens do trauma que Sorrentino viveu a partir de uma tragédia familiar.

O filme emociona com humor. Até em uma das cenas mais delicadas, a de despedida de seus pais, é permitida uma piada. Freud, com certeza, explicaria bem esse momento de “chiste” diante de um acontecimento tão doloroso. A narrativa é do tipo “coming-of-age” (amadurecimento) sobre um garoto desbravando e descobrindo todo tipo de coisa, desde sua própria família até o futebol, passando pelo cinema, amor e sexo, assim também como a dor da perda.

“A mão de Deus” é sem dúvida o melhor filme do diretor e irá concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Dizia Fellini que “o cinema não serve para nada, mas ao menos nos distrai da realidade”. Ao menos esse filme serve também para entender a realidade vivida pelo diretor e como o futebol e Maradona modificaram sua existência, a de seu entorno familiar e a de toda Nápoles.

E caso você não goste nem saiba jogar futebol, não se preocupe: “A mão de Deus” serve apenas como apreciação de uma boa arte.

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