Jéssica Kuhn indica “A vida em mim”

Publicado dia 16 de dezembro de 2021

Jéssica Kuhn indica “A vida em mim”

i-PSIne 🎬:

“A vida em mim”
Nacionalidade: Suécia, Estados Unidos
Ano: 2019
Direção: John Haptas, Kristine Samuelson
Gênero: Documentário
Duração: 00:40
Plataforma: Netflix

Nos anos 90, crianças de famílias de refugiados que vivem na Suécia são acometidas por uma misteriosa doença que as coloca em estado semi-vegetativo, em um sono profundo semelhante ao coma.

O primeiro caso foi registrado em 1998, no norte da Suécia. Ou seja, há mais de vinte anos o país tem enfrentado essa estranha doença, que afeta apenas crianças solicitantes de asilo ou refugiadas.

A doença parece preferir crianças de perfis geográficos e étnicos mais vulneráveis: aquelas da antiga União Soviética, dos Bálcãs, crianças ciganas e, mais recentemente, yazidis. Apenas um pequeno número é de crianças desacompanhadas, muito poucas são asiáticas e nenhuma africana.

Em todos os casos, as crianças parecem simplesmente se “desligar” – param de andar, falar ou mesmo abrir os olhos. A boa notícia é que, eventualmente, se recuperam.

Os médicos nomearam essa condição até então desconhecida como “Síndrome da Resignação”.

A síndrome parece ser uma espécie de mecanismo de defesa psicológico involuntário (inconsciente) que afasta as crianças da difícil realidade vivida, tornando mais “fácil” (para elas) sua sobrevivência. Ou seja, por efeito da experiência traumática, a criança parece desconectar as partes conscientes de seu cérebro.

Inúmeras condições parecidas com a “Síndrome da Resignação” já foram observadas antes – entre  sobreviventes de campos de concentração nazistas, por exemplo.

No entanto, pouco se sabe de verdade sobre as causas da doença e o porquê da existência de uma concentração maior justamente na Suécia, ainda que existam casos também em outros países.

As chamadas “crianças apáticas” se tornaram uma questão política em meio a um debate crescente sobre as consequências da imigração na Suécia, país onde, segundo o Censo de 2010, quase 15% da população era de imigrantes.

Em 2015, durante a crise de imigração na Europa, a Suécia foi um dos países da UE que mais receberam refugiados. Ela acolheu, per capita, mais imigrantes do que a Alemanha, por exemplo. Segundo a Eurostat, agência que coleta dados estatísticos dos países-membros, foram mais de 162 mil pedidos de refúgio em 2015. Ou seja, 1.667 pedidos de refúgio para cada 100 mil suecos.

Encorajados pela política de “portões abertos” e pelo generoso auxílio financeiro oferecido pelo Estado sueco, centenas de milhares de imigrantes seguiram para o país. O que parece explicar o maior número de casos da “Síndrome da Resignação” registrados na Suécia.

Em 40 minutos, os diretores John Haptas e Kristine Samuelson correm para apresentar a inusitada situação, acompanhando três crianças afetadas pela doença no país escandinavo. Há depoimentos de médicos e cientistas ao longo do curta, mas muito pouco é realmente dito além da conexão da violência e incerteza na vida das famílias com o tal coma auto-induzido de algumas das crianças.

Vale pela curiosidade do tema e reflexões que provoca, embora deixe muitas perguntas no ar.

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