Jéssica Kuhn indica “Cenas de um casamento”

Publicado dia 18 de novembro de 2021

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“Cenas de um casamento”
Nacionalidade: Estados Unidos
Ano: 2021
Direção: Hagai Levi
Gênero: Drama
Duração: 01:00 (cinco episódios)
Plataforma: HBO, HBO Max

O israelense Hagai Levi é o responsável pelo remake da obra original e homônima de 1973 do diretor sueco Ingmar Bergman.

Conhecido por suas séries como “Sessão de Terapia” (a original israelense) e “The Affair”, o roteirista foi escolhido por Daniel Bergman, um dos filhos do grande cineasta sueco, que faz parte da Ingmar Bergman Foundation, responsável por administrar o legado do pai.

 

Os tempos mudaram, o cenário também mudou e a Suécia dos anos 1970 dá lugar aos Estados Unidos do século 21.

 

Mas a espinha dorsal de “Cenas de um Casamento” permanece. Hagai Levi preserva o caráter episódico do original, e propõe uma discussão atualizada. Só que desta vez são cinco episódios aos invés de seis.

 

A estória é uma colcha de retalhos de um relacionamento que mostra por que aquele casamento chegou a dar certo em um momento, e principalmente porque e como tudo acabou sem que os dois percebessem.

 

Já de início sentimos que há um desconforto instalado na vida do casal. Os dois são diferentes demais e querem coisas distintas. Eles conversam muito, mas não se conhecem.

 

Mira (Jessica Chastain), é uma mulher moderna, neurótica obsessiva, que foge da passividade e tem ânsia de viver, ao mesmo tempo em que carrega alguns traumas.

Jonathan (Oscar Isaac), por sua vez, evita falar sobre a família. Depressivo, faz de tudo para fugir de seus conflitos e se apegar a uma zona de conforto. Ele usa o amor pelo filho como justificativa para tudo. Tudo é pelo bem da criança!

A relação de Charlie com o filho, entretanto, é marcada pelo distanciamento. Ele não sabe do que o filho gosta, o que o filho deseja…

A criança apresenta diversas dificuldades, até mesmo a de ir ao banheiro, demonstrando assim que ele já vem herdando as neuroses familiares.

A culpa religiosa também ocupa espaço importante na releitura de Hagai Levi. E, ao longo dos cinco capítulos, fica claro o quanto a religião e as pressões familiares interferiram nesse casamento.

Interessante ver a repressão retratada no homem, e é essa repressão que logo vem à tona na pior briga deles, no quarto episódio (o melhor da série).

Fica evidente no casal a distância entre eles e o vazio que ambos carregavam em si, e o quanto esse relacionamento serviu como uma forma de escape. Até que chega o momento em que não dá mais.

O cenário da casa é importantíssimo ao mostrar o desgaste do casal. Perspicaz ao mostrar como ela vai se descaracterizando enquanto lar a cada novo episódio, até que, no final, vemos o imóvel, já pertencendo a outra família.

O término de uma relação demanda um  processo de luto, que precisa ser enfrentado. Freud (1917) escreveu que uma pessoa se torna forte ao se sentir amada. Buscar se conhecer faz parte do processo de amar, pois assim deixamos de amar somente na fantasia para amar também na realidade. E é essa uma das contribuições de um processo analítico.

Que bom que Hagai Levi aceitou o desafio de refilmar Bergman!

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