Jéssica Kuhn indica “Eu, mamãe e os meninos”

Publicado dia 21 de outubro de 2021

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“Eu, mamãe e os meninos”
Nacionalidade: França, Bélgica
Ano: 2013
Direção: Guillaume Gallienne
Gênero: Comédia
Duração: 01:25
Plataforma: Apple TV, Looke, Google Play, YouTube, Now, Vivo Play

 

“Eu, mamãe e os meninos” é o filme autobiográfico de Guillaume Gallienne, e também seu filme de estreia como diretor. Gallienne também assina o roteiro e interpreta a si mesmo e ainda sua mãe.

A peça que inspirou o filme estreou em 2008 e ganhou o prêmio Molière – um dos mais importantes do gênero no mundo.

Já o filme foi o maior vencedor da principal premiação do cinema francês, o César, levando para casa os troféus de melhor ator, roteirista, filme, edição e melhor filme de estreia como diretor, em 2014.

Guillaume tem dois irmãos e é muito ligado à mãe. “Meninos e Guillaume, está na mesa!” era a forma como a sua mãe chamava os filhos na hora das refeições. Apenas essa parte já é suficiente para percebermos que a mãe o coloca como um ser à parte, negando-lhe a masculinidade.

“O que fazer quando todos já decidiram o que você é?” – essa pergunta é a tônica do filme, onde o  personagem principal é considerado uma menina antes mesmo que possa ter maturidade suficiente para definir sua personalidade e sexualidade.

O filme comove ao abordar de maneira bem-humorada uma história verídica e dramática. Guillaume está mergulhado no desejo da mãe e se identifica com a imagem que ela faz dele. De início, ele se vê como mulher, e em seguida como homossexual. Somente mais tarde consegue ter outra visão de si mesmo e reconhecer o seu próprio desejo.

E é de forma metafórica que ele encontra a sua identidade masculina.  Em uma cena tocante, o treinador lhe ensina que é preciso perder o medo do “cavalo”: o medo de sua própria masculinidade.

Comovente a cena em que Guillaume, no jantar só de mulheres onde conhece Amandine, ouve a anfitriã chamar para a refeição  –  “Meninas e Guillaume, à mesa”. Finalmente é reconhecido como homem, o que sua mãe se negava a fazer.

A doentia relação narcísica da mãe com o filho repercute em sua identidade e sexualidadede de maneira muito clara. A mãe de Guillaume, de forma inconsciente, se nega a vê-lo como homem, coloca-o na posição da filha que não teve e posteriormente como homossexual. O pai, por omissão, deixa que a mãe se imponha como modelo identificatório. Guillaume então se submete para não perder o amor da mãe.

No final, Guillaume avisa a mãe que vai casar com Amandine e que escreverá uma peça contando o caminho que percorreu para se encontrar como homem.

O filme é original, inclusive por tratar da heterossexualidade reprimida. Muito interessante também e muito perspicaz a sacada de Guillaume representar a si mesmo e a mãe até o momento em que se diferencia dela e reencontra sua masculinidade, quando a mãe passa então a ser interpretada por uma atriz.

São cômicas as várias idas a psiquiatras e psicanalistas. Mas a história dramática de Guillaume fala muito sobre a construção da identidade sexual, mostrando o papel do desejo dos pais (especialmente da mãe) e das identificações realizadas pela criança.

Filme que vale a pena ver ou ser revisto!

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