Jéssica Kuhn indica “Farol das orcas”

Publicado dia 29 de julho de 2021

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“Farol das orcas”
Nacionalidade: Espanha, Argentina
Ano: 2016
Direção: Gerardo Olivares
Gênero: Biografia, drama, romance
Duração: 1:50
Plataforma: Netflix

Produção conjunta entre Espanha e Argentina, baseada no livro “El faro de las Orcas” e inspirada em fatos reais, o filme homônimo de Gerardo Olivares traz uma narrativa que emociona desde o início.

Em meio a paisagens espetaculares, “Farol das orcas” mostra a história de uma mãe (Maribel Verdú) que sai de Madri com o filho Tristán (Joaquin Rapalini), em busca de Beto Bubas (Joaquín Furriel), o biólogo marinho que vive em uma reserva marítima na Patagônia argentina.

Tristán é um menino autista que não interage, não fala e nem se interessava por nada, até ter visto um dia um documentário na TV sobre Beto e seu relacionamento com as orcas. Pela primeira vez, Tristán saiu de seu mundo particular e se interessou por algo.

Beto, por sua vez, é um homem solitário e também isolado, geograficamente, e em seu mundo emocional.

Mas surge nele uma curiosidade e um interesse genuínos por conhecer quem é aquela família e principalmente quem é aquele menino. Quem afinal é Tristán, sem o rótulo de autista que o caracterizava?

O biólogo que adquiriu enorme paciência após tantos anos aprendendo a se relacionar com as orcas, usa agora suas habilidades para ajudar Tristán a se conectar com a natureza e consigo mesmo.

Despido do preconceito do diagnóstico, Beto pode compreender os padrões que sustentavam Tristán e respeitá-los num primeiro momento.

Numa visão psicanalítica sobre o autismo, temos um sujeito imerso no “Real” de Lacan, onde a linguagem entrou na vida da criança apenas na sua concretude, sem a sua função de simbolizar. Ainda sob a visão da psicanálise, tal diagnóstico deve ser apenas um ponto de partida e nunca um ponto de chegada, para que todos os que ali se relacionem consigam existir.

Se de início Tristán brincava apenas posicionando os objetos de forma linear e estática, aos poucos isso vai mudando. Os mesmos objetos que apenas se alinhavam, passam a compor a imagem de um rabo de orca – representante do objeto que Beto carregava no pescoço, seu amuleto.

Tristán foi tocado pela relação com os humanos e com as orcas, saindo do limite reducionista da concretude e podendo, então, simbolizar.

“Farol das Orcas” é muito mais do que simplesmente a história de uma mãe que conduz o filho autista até um biólogo marinho para interagir com orcas.

O filme nos remete ao sábio conselho de Carl Jung: “Conheça todas as técnicas, domine todas as teorias, mas, ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”

Nenhuma técnica supera a escuta empática e atenta, que nos permite saber quem de fato o outro é.

Tristán representa, em alguma medida, cada um de nós, tão carentes de sermos vistos e ouvidos em profundidade.

Recomendo fortemente uma dose de “Farol das Orcas” para que sejamos cada vez mais capazes de dissolver barreiras e nos fazermos humanos, para além de quaisquer rótulos.

O filme vale cada minuto!

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