Jéssica Kuhn indica “Freud”
Publicado dia 19 de novembro de 2020
i-PSIne 🎬:
“Freud”
Nacionalidade: Áustria
Ano: 2020
Direção: Marvin Kren
Gênero: Série televisiva, mistério, suspense, crime
Duração: 0:55
Plataforma: Netflix
E eis que o “pai da psicanálise”, Sigmund Freud (Robert Finster), se une ao inspetor de polícia Alfred Kiss (Georg Friedrich) e a médium Salomé (Ella Rumpf) para, juntos, caçarem um serial killer.
Estamos diante de uma produção austríaca cujo enredo mistura muita ficção com pouquíssima realidade no que diz respeito à biografia de Freud.
Contando com excelente fotografia e elenco, a série é ambientada em Viena, ano de 1886, época em que as primeiras teorias do jovem Sigmund despertavam interesse e geravam muita polêmica. Pena ter desperdiçado uma grande oportunidade de explorar a teoria psicanalítica e a forma como Freud a desenvolveu. O nome de Freud funciona na verdade apenas como um chamariz: portanto, embora seja um bom entretenimento, não espere por veracidade.
Para o público mais leigo em psicanálise, vale lembrar o que é verdade e mentira nessa série. Confira na lista abaixo o que é fato e ficção na produção dirigida por Marvin Kren:
Fato: a cocaína foi objeto de estudo para Freud, que publicou um artigo intitulado “Über Coca” (“Sobre Coca”) no qual discutia o uso da substância para a cura da histeria e outras “doenças da alma”. E devido às dores do câncer, ele fez frequente uso da droga.
Ficção: Freud nunca usou de seus habilidades para desvendar casos policiais.
Fato: as apresentações na universidade de Viena são reais. No final de 1885, Freud fez intercâmbio em Paris. Lá interessou-se pela hipnose e, ao retornar, passou a demonstrar seus experimentos aos demais colegas de profissão através de apresentações na Universidade de Viena, onde se formou médico. E quem o apoiava em suas descobertas, como mostrado na série, era o doutor Josef Breuer, seu mentor.
Ficção: Fleur Salomé, a médium, não existiu. A julgar pelo famoso sobrenome, a personagem totalmente fictícia deve ter sido inspirada em Lou-Andreas Salomé, autora, poeta e psicanalista que não apenas conheceu Freud como também teve um caso com Friedrich Nietzsche. Freud a considerava uma grande amiga e nunca teve um romance com ela. Além disso, eles se conheceram em 1911, 25 anos após os eventos da série.
Fato: Freud trabalhou na clínica psiquiátrica de Theodor Meynert, interpretado na série por Rainer Bock. E assim como no programa, Freud se demitiu da posição (não remunerada, por sinal) para abrir sua clínica privada.
Ficção: embora a família Szápáry seja real, tendo inclusive participação importante na Primeira Guerra Mundial, os personagens Victoria e Sophia são fictícios, bem como seu plano de golpe. A unificação da Áustria e Hungria se deu em 1867 e havia tensão entre as duas nações do Império Áustro-Húngaro, porém não há registros da realeza húngara ter tentado assassinar os austríacos em 1886.
Fato: o teatro em chamas – o Ringtheatre de Viena sofreu um incêndio no dia 8 de dezembro de 1881, deixando 384 mortos. A estrutura restante do teatro foi demolida e, mais tarde, no mesmo local foi construído um prédio de apartamentos, em que Sigmund Freud foi um dos primeiros inquilinos.
Fato: o casamento – nos momentos finais da série, Freud anuncia à sua família que irá se casar com Martha Bernays (Mercedes Muller). Ela foi a única esposa de Freud. Especula-se que ele tenha escrito mais de 900 cartas para Martha durante os quatro anos que antecederam seu casamento em 1886.