Jéssica Kuhn indica “Não olhe para cima”
Publicado dia 13 de janeiro de 2022
i-PSIne 🎬:
” Não olhe para cima”
Nacionalidade: Estados Unidos
Ano: 2021
Direção: Adam McKay
Gênero: Comédia, drama, ficção-científica
Duração: 02:18
Plataforma: Netflix
“Não Olhe para Cima”, do diretor e cineasta Adam McKay, é uma sátira imperdível sobre os dias que estamos vivendo, e que conta ainda com um elenco estelar incluindo nomes como Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Jonah Hill, Meryl Streep e Cate Blanchett.
A história tem como protagonistas Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence) e Randall Mindy (Leonardo DiCaprio), dois astrônomos que descobrem que um cometa gigantesco está em rota de colisão com a Terra, com potencial para destruir todo o planeta. Mas logo os dois cientistas percebem que a humanidade não está muito preocupada com o alerta.
Em uma corrida para avisar as autoridades responsáveis, os cientistas enfrentam um controverso negacionismo por parte da presidente dos Estados Unidos, Janie Orlean (Meryl Streep), a superficialidade da mídia mainstream e a inexplicável rebelião de pessoas que simplesmente escolheram não acreditar na destruição iminente.
McKay consegue escancarar a cegueira do negacionismo e alfinetar o capitalismo predatório, ao mostrar bilionários que posam como grandes apoiadores da humanidade, mas que só desejam aumentar seus lucros, custe o que custar.
Interessante objeto de estudo para a psicanálise são os personagens e como cada um deles é condicionado ao tipo social que representa.
A indiferente Orlean (Merryl Streep), presidente dos Estados Unidos e seu filho e assessor, o bajulador Jason (Jonah Hill), representam o núcleo negacionista. Orlean é uma ironia simbólica à figura retrógrada e nepotista do ex-presidente Donald Trump. Um tanto quanto exagerado e inverossímil? Não para aqueles que vivem e conhecem de perto o que vem acontecendo no Brasil nesse cenário político pandêmico, por exemplo.
O sensacionalismo midiático fica a cargo dos apresentadores Brie Evantee (Cate Blanchett) e Jack Bremmer (Tyler Perry).
A ultra-exposição e o fascínio pela vida privada de personalidades é representada pelo casal de artistas pop Riley Bina (Ariana Grande) e DJ Chello (Kid Cudi).
Leonardo DiCaprio interpreta muito bem as crises de pânico do ansioso Dr. Mindy, além de mostrar como algumas pessoas podem facilmente se tornar massa de manobra do sistema.
A personagem de Jennifer Lawrence, Kate, ilustra o sexismo da sociedade. Ela logo é taxada pela mídia como “surtada” por falar as verdades que ninguém quer ouvir e por não apresentar a “aparência” e comportamento desejados pelo padrão social/midiático feminino.
O diretor ainda alude a temas como disparidade de gênero, gaslighting, o cerceamento de expressão e o patriotismo exacerbado (visto com o personagem de Ron Pearlman, Benedict Drask).
A pandemia e o crescimento de grupos antivacina, com a Internet e a mídia dando voz a extremistas anticiência: é sobretudo a respeito da gravidade desse tema que Adam McKay vem nos provocar com o seu mais novo longa.
Fica aqui a dica para duas cenas pós-créditos que são bastante relevantes: não deixe de assisti-las.
Uma sátira atual e extremamente necessária, com um final plausivel e – por isso mesmo – chocante.
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