Jéssica Kuhn indica “O tigre branco”

Publicado dia 9 de setembro de 2021

i-PSIne 🎬:

“O tigre branco”
Nacionalidade: Índia, Estados Unidos
Ano: 2021
Direção: Ramin Bahrani
Gênero: Drama
Duração: 02:05
Plataforma: Netflix

Baseado no livro homônimo de Aravind Adiga, que lhe rendeu, já em seu romance de estreia, o Booker Prize – prêmio ao qual concorrem os livros escritos por cidadãos da Comunidade Britânica, que inclui a Irlanda e as ex-colônias – de 2008, “O tigre branco” foi levado às telas sob a  brilhante direção de Ramin Bahrani, consagrado e premiado cineasta americano, filho de imigrantes iranianos.

O filme conta a história de Balram-Halwai (Adarsh ​​Gourav), um ambicioso motorista indiano que usa de inteligência e astúcia para escapar da pobreza e se libertar da servidão. Embora um tanto duro, o longa não deixa de ser uma sátira sobre a sociedade indiana e o capitalismo.

Quando assistimos a “O tigre branco” é quase que inevitável lembrarmos de “Parasita“, do sul coreano Bong Joon-ho (2019), que ganhou os maiores prêmios do Oscar do ano passado e foi, inclusive, o primeiro estrangeiro a ganhar o de melhor filme (já falamos dele aqui, veja o texto de Maristela Napolitano em ,,Kannalles” – o blog da i-PSI). Em ambos se repete a ideia central de mudança de domínio e poder. O Ocidente que se cuide!

Mas “Tigre branco” nos oferece uma solução: um empreendedorismo humanitário, que vê pessoas não como peões em um tabuleiro, mas como o que elas realmente são, pessoas cujos direitos básicos são extamente isso, direitos.

No início do filme, estamos com Balram em 2010, em Délhi, recuando em suas memórias a Bangalore, também na Índia. Balram nos conta a sua trajetória de vida e, com isso, nos revela sua verdade sobre a Índia.

As metáforas são uma constante no romance e no filme. Numa delas, Balram diz que “estamos presos na Gaiola dos Galos, exatamente como aqueles pobres coitados lá no mercado”. Também há as baratas do quarto e, claro, o tigre branco, um exemplar único a cada geração. O encontro com o tigre é o auge da transformação de Balram: “foi então que, do meio da lama, surgiram umas garras, penetraram na minha carne e me puxaram para dentro da terra escura.” Seu desmaio é também um despertar.

É nesse momento de “insight”, de descoberta de si mesmo, que Balram torna-se o dono de seu destino. A inteligência à serviço da sobrevivência. Já na escola da aldeia o professor profetizara frente ao bom aluno que ele era “- Você é o tigre branco, o único que nasce em sua geração.”

Mas a principal metáfora do filme é de fato o galinheiro, e uma pergunta: por que as galinhas permanecem no galinheiro sem se rebelar, sem sequer tentar fugir, mesmo assistindo à morte das  semelhantes e sabendo que serão as próximas a serem depenadas e destrinchadas? “Por que permanecemos no galinheiro”, pergunta Balram-Halwai, filho de um puxador de riquixá?

A chave é o galinheiro, melhor dizendo, os que querem fugir do galinheiro, mesmo às vezes sem saber disso.  Como Balram conseguiu escapar ao seu destino? – é disso que se ocupa o romance e também o expectador durante as duas horas da película.

Quando estamos em uma situação sem saída, voltar o olhar “para dentro” (prestar atenção aos  sentimentos, sonhos e fantasias) e/ou voltar os olhos “para fora” e fazer a “leitura de sinais” do mundo, que Carl Gustav Jung chamava de “religare”, também pode nos ajudar a sair do “galinheiro”.

Ambas experiências podem ser perigosas pois, não raro, sonhamos o nosso desejo reprimido e não com uma direção que nos permita abrir caminhos. Outras vezes fazemos uma leitura paranoica dos sinais. É o risco que Balram corre. É o risco que corremos.

E quem está no galinheiro e deseja fugir, precisa ter coragem de sair para a vida e se arriscar a ser feliz.

A psicanálise ajuda e muito a sair do galinheiro, sabia?

 

Tags:

#JéssicaKuhn #i-PSIne #Psicanálise #OTigreBranco #RaminBahrani