Jéssica Kuhn indica “Sementes podres”
Publicado dia 7 de outubro de 2021
Jéssica Kuhn indica “Sementes podres”
i-PSIne 🎬:
“Sementes podres”
Nacionalidade: França
Ano: 2018
Direção: Kheiron
Gênero: Comédia
Duração: 01:40
Plataforma: Netflix
“Sementes Podres” (“Mauvaises Herbes”, titulo original francês e que em português significa “ervas daninhas”), trata das dificuldades enfrentadas por uma parcela da juventude marginalizada e estigmatizada – no caso, filhas e filhos de imigrantes num país desenvolvido.
Kheiron, o jovem diretor francês com origens iranianas, além de lançar um disco de rap e ser famoso na França como comediante, assume aqui os papéis de diretor, roteirista e também do protagonista Waël. Já no cinema, seu primeiro filme (“Nós ou Nada em Paris”) rendeu uma indicação ao César, o Oscar francês.
E mesmo quem não conhece seu trabalho se surpreende ao ver o talento do ator em uma estória dramática, ainda que o filme traga boas pitadas de humor e seja classificado como comédia.
Waël vive nos arredores de Paris dando pequenos golpes com Monique (Catherine Deneuve), uma aposentada. Sua rotina se transforma no dia em que a vida deles cruza com a de um amigo dela, Victor (André Dussollier), que acaba por levá-los a um projeto de reforço escolar para jovens inadaptados ao sistema educacional francês. A maioria pertencente a famílias de imigrantes que se viram forçados a deixar seu país de origem por causa de guerras ou pela intensificação da pobreza.
A frase do escritor francês Victor Hugo (1802-1885), “lembrai-vos sempre de que não há ervas daninhas nem homens maus — há, sim, maus cultivadores” serviu de inspiração para o roteiro.
O cineasta parece complementar a frase ao deixar claro em seu filme que ninguém nasce delinquente. E que os “cultivadores” não são apenas os pais, mas toda a sociedade.
De forma delicada, “Sementes podres” consegue mostrar na tela a importância do afeto, do respeito e do diálogo aberto para que os jovens possam encontrar o seu caminho.
E afinal, quem são as sementes podres, ou melhor, as ervas daninhas, do título original? Os adolescentes ignorados pelo sistema com suas famílias em constantes dificuldades financeiras ou o policial corrupto que explora um garoto que toma conta dos irmãos menores e tem a mãe doente, obrigando-o a traficar drogas? É podre a adolescente com seus sonhos de uma vida diferente da de sua mãe, ou o homem (pai ou padrasto) que a estupra? É podre o padre que abusa sexualmente de uma criança? Ou ainda o governo que nega financiamento para o sistema educacional?
Temas como pedofilia, bullying, xenofobia e tráfico de drogas são debatidos no longa. As dificuldades dos conflitos econômicos e sociais são expostas mostrando que a sociedade francesa é cheia de dilemas como qualquer outra, independentemente de quão desenvolvida ela seja.
A psicanálise sabe da importância de ouvir e ser ouvido, de quebrar tabus e preconceitos, de lidar com os traumas para ressignificá-los, da necessidade de conhecer a si mesmo e não se deixar dominar pelo que acontece com você e sim, aprender a lidar com o que fazem a você. É esse o trabalho da psicanálise. Não somos seres predestinados a um destino determinado. Somos, sim, responsáveis por nossas ações em nossa vida e no mundo.
Filme simples, leve, mas nada superficial. Uma verdadeira aula de humanismo e cidadania.
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