Jéssica Kuhn indica “Victoria e Abdul: o confidente da rainha”
Publicado dia 3 de dezembro de 2020
i-PSIne 🎬:
” Victoria e Abdul: o confidente da rainha”
Nacionalidade: Reino Unido, Estados Unidos
Ano: 2018
Direção: Stephen Frears
Gênero: Drama
Duração: 1:51
Plataforma: Netflix, Now, YouTube, Google Play, Vivo Play, Apple TV
O filme conta e celebra a inusitada amizade entre a rainha Victoria (Judi Dench) e Abdul Karin (Ali Fazal), um jovem empregado indiano que viaja à Inglaterra para participar do Jubileu de Ouro da rainha, ou seja, o 50° ano de seu reinado, em 1887. Abdul tem a oportunidade de se aproximar dela, e isso acaba gerando atrito no círculo de convívio real.
A história de Abdul Karim é verídica e foi resgatada através de seus diários encontrados em 2010.
O longa traz um humor interessante em sua narrativa e não cansa o público, mesmo aquele não adepto de filmes que retratam contextos históricos.
O choque de culturas, onde se opõem barbárie e civilização, é sutilmente retratado, ainda que de forma bastante romantizada. Desde o início do filme, essa discussão é colocada sob três pontos de vista distintos: o do britânico nobre, o do indiano Mohammed e do indiano Abdul. Os britânicos acreditam que a Inglaterra é o símbolo da civilização em comparação à Índia. Mohammed tem exatamente a visão oposta. E Abdul, ainda que colonizado, ou talvez exatamente por isso mesmo, tem uma visão ingênua e apaixonada pelos ingleses e por sua rainha. Há uma lealdade mútua entre servo (Abdul) e soberana (Victoria) .
Uma curiosidade: Judi Dench já havia interpretado a rainha Victoria em 1997, em “Mr Brown”, filme que retrata a relação desta com seu criado John Brown. Brown é inclusive mencionado em “Victoria e Abdul” e comparado a Abdul pelos membros da nobreza.
Neste filme tecnicamente perfeito, com roteiro, direção e figurino impecáveis, o olhar psicanálitico vai, como em outros obras aqui comentadas, nos remeter à alteridade, ao Outro, aquele desconhecido que nos fascina e nos amedronta.
Mas a partir desta premissa, leva-nos a refletir sobre a amizade, esse sentimento tão caro a todos nós, que é o tema principal desta obra.
Para Freud, a amizade é uma pulsão sexual de alvo inibido (um amor inibido). Já para Winnicott, aproveitando que o filme nos situa em território britânico, a amizade não remete a nenhuma inibição, e sim constitui um afeto próprio, sendo que o prazer da amizade pode ser tão intenso quanto os prazeres erógenos. Winnicott propõe a expressão “orgasmo do Eu” para se referir às experiências de satisfação máxima que não têm a ver com as satisfações instintivas.
O filme, sem dúvida, nos faz lembrar o tempo todo de ambas as teorizações.