Mau humor crônico é doença
Publicado dia 16 de março de 2021
Jéssica Kuhn
Quem se lembra de Hardy Har Har, a hiena pessimista do desenho animado de Hanna Barbera, famosa por viver resmungando ” Oh dia, oh céus, oh vida, oh azar”?
Pois bem, a rabugice do personagem e seu mau humor crônico expressam bem os sintomas da distimia.
A rabugice que é doença
A distimia é uma forma crônica de depressão, com sintomas mais leves, uma vez que o paciente, embora siga sempre reclamando de tudo e todos, consegue ir levando a sua vida.
Esse transtorno de humor
também é conhecido como “Transtorno Depressivo Persistente”, ou “distúrbio do mau-humor”. Cerca de 4% a 7% da população mundial sofre dele. E se a pessoa for mulher a chance de haver distimia dobra, devido à variação hormonal do organismo feminino.
Durante muito tempo, esse transtorno não foi levado a sério, sendo confundido com características de pessoas ranzinzas, mal educadas, mal humoradas e até mesmo preguiçosas.
Mas a doença não deve ser subestimada, pois o portador corre um risco 30% maior de desenvolver quadros depressivos graves. Além de predispor ao isolamento e ao consumo de álcool ou drogas ilícitas.
As causas da distimia
As causas do mau humor crônico são multifatoriais. Fatores genéticos, bioquímicos, bem como eventos estressores e traumáticos são deflagradores para o desenvolvimento da distimia.
Mas a genética é um fator importante quando se pensa em um possível desequilíbrio químico cerebral envolvendo uma série de neurotransmissores em regiões do cérebro que comandam o humor, como o sistema límbico, o hipotálamo e o lobo frontal.
Como saber que não é apenas mau humor?
O distímico não sente prazer em nada e só enxerga o lado negativo das coisas. A diferença entre ele e o mau humorado é que o último reclama de um problema, mas cessa de fazê-lo diante da resolução. Já o distímico reclama até mesmo se ganhar na loteria. Ele não consegue ficar feliz ou ter algum prazer, pois é imediatamente tomado por pensamentos pessimistas, como ser alvo de assalto, sequestro, etc.
Uma das características mais importantes da distimia é a sua cronicidade. O mau humor constante costuma ser visto como traço de sua personalidade, por isso, raramente o distímico pede ajuda. O que normalmente acontece é esses pacientes chegarem ao consultório quando já evoluíram para um quadro depressivo grave.
Com relação à performance, pessoas que desenvolveram a distimia conseguem exercer suas atividades, mas sentindo muito cansaço, o que muitas vezes é confundido com preguiça, principalmente em crianças.
Mau humor tem cura?
Esse mau humor patológico não precisa ser eterno. Poucos sabem que a distimia pode ser tratada com a ajuda de medicamentos antidepressivos associados à terapia. A terapia é essencial, uma vez que os medicamentos parecem ser mais eficazes no tratamento de distimia quando combinados com a psicoterapia.
A psicanálise pode ajudá-lo a aprender sobre a sua condição e seu humor, reduzindo padrões de comportamento autodestrutivo, como a negatividade, a desesperança e a falta de assertividade. E irá também melhorar a sua capacidade de se relacionar com as pessoas, seja no ambiente familiar, seja no profissional.
E se até o humor patológico tem remédio, o mau humor natural também tem. Sabemos que vários fatores interferem no humor e que a análise ajuda o sujeito a ter uma vida mais satisfatória e feliz. Cuide do seu humor e da sua saúde mental. E para isso não há idade! Aliás, ao contrário do que se pensa, o humor até costuma melhorar com ela (a idade).
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