O negacionismo e a “Síndrome de Procusto”

Publicado dia 26 de janeiro de 2021

Jéssica Kuhn

Em vários situações da vida cotidiana, tanto no ambiente corporativo ou acadêmico, ou mesmo no ambiente familiar, é comum sentirmos que existem pessoas mais capacitadas ou talentosas do que nós. Enquanto alguns admiram e tomam essas pessoas como exemplo a ser seguido, outros se sentem ameaçados.

Para evitar que se sintam inferiores ou que venham a ter um suposto prejuízo (na carreira, por exemplo), eles acabam tendo comportamentos que visam menosprezar, humilhar e assim desqualificar os que os incomodam. Essas atitudes caracterizam a chamada “síndrome de Procusto”.

Procusto, o “pai” da síndrome

Procusto (Procustes) é um personagem da mitologia grega. Em sua casa ele tinha uma cama de ferro, com seu exato tamanho, onde convidava os viajantes a se deitarem e passarem a noite.

Se os hóspedes fossem altos, ele os decepava para ajustá-los à cama, se fossem baixos, ele os esticava.

É daí que vem a expressão “cama de procusto”, quando se trata de alertar alguém que possa ser vítima de outra pessoa que não admite que ninguém seja ou pareça ser mais qualificada que ela em qualquer aspecto.

O reinado de Procusto terminou quando o herói Teseu o capturou e o prendeu em sua própria cama, cortou-lhe a cabeça e os pés, aplicando-lhe a mesma crueldade que o infeliz inflingia aos seus hóspedes.

Este mito deu origem à síndrome de Procusto, que não está em nenhum manual de diagnóstico clínico, mas que é um comportamento reconhecido pela psicologia e psicanálise.

Quem são essas pessoas?

São pessoas com autoestima extremamente frágil,  muito baixa, ou, pelo, contrário, exagerada. Não possuem o menor controle sobre suas emoções: tomam como ofensa as capacidades e acertos dos outros, têm um medo exacerbado das mudanças e assumem comportamentos irracionais.

Pessoas que sofrem com essa síndrome vivem em meio a uma contínua frustração e contam com uma pequena sensação de controle das situações. Por trás de suas palavras, evidencia-se um verdadeiro egocentrismo e um pensamento inflexível e extremamente hostil. São pessoas que não sabem lidar com as próprias emoções.

A metáfora de Procusto representa o puro egoísmo do ser humano em relação ao seu próximo. São aqueles que não prosperam nem deixam os outros prosperarem. É uma agressividade que não hesita em destruir os mais capazes.

Procusto caiu na rede

Em um momento tão delicado como o atual, é possível identificar vários sujeitos nas redes sociais que podem ser considerados Procustos da vida real.

Assim, o fantasma de Procusto exerce uma lógica anticiência que nega fatos e pesquisas científicas, tenta desqualificar a capacidade de professores, cientistas, pesquisadores, intelectuais, jornalistas, etc, na tentativa de camuflar e proteger sua própria ignorância em relação aos temas abordados por eles.

Sim, Procusto com certeza negaria os avanços da ciência e relativizaria as vidas humanas.

Os indivíduos com síndrome de Procusto defendem posições extremadas que ferem o bom senso, que obrigam aos que estão sob seu comando a se adequarem aos seus delírios e à sua indiferença com o sofrimento e a morte do outro.

Apesar de existirem Procustos por aí afora, não significa que devemos nos render a eles.

Liberte-se dos grilhões de Procusto, de sua cama de ferro mental, ampliando o seu conhecimento e acrescentando atitudes positivas com seu trabalho.

Será que ela está afetando você?

Veja como identificar os sinais de que a pessoa pode estar sofrendo da síndrome de Procusto:

  1. Não comemora o sucesso e a conquista dos colegas 

A insegurança e o medo de ser superado faz com que a pessoa se sinta ameaçada e não consiga comemorar o êxito alheio.

  1. Faz intriga sobre os colegas de trabalho 

Por ter uma imagem muito negativa de si mesmo, só se sente valorizado quando desvaloriza alguém.

  1. Omite informações importantes para o trabalho

Em nome da própria vaidade, não se importa de prejudicar a empresa ou a coletividade como um todo.

  1. Não aceita visões diferentes

Devido à sua insegurança, busca fazer as ideias de outros funcionários parecerem absurdas.

  1. Boicota ideias e desmotiva os outros

Ao boicotar as ideias dos demais, acaba trazendo  desmotivação a todo o grupo.

  1. Sente aversão a desafios

O medo de não ser capaz de superá-los e o modo como lida com eles pode  ser um grande indício da ocorrência da “síndrome”.

  1. Ridiculariza o comportamento do outro

Cria um ambiente tóxico, que em casos extremos pode levar o outro à depressão, ansiedade e estresse.

  1. Age de maneira ríspida frente às opiniões alheias

Sentem a necessidade de reprimir situações em que os outros possam se destacar. E poucas coisas podem ser tão ameaçadoras quanto outras opiniões, ainda mais se evidenciarem todo o seu despreparo.

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