O que meu analista está pensando?
Publicado dia 15 de dezembro de 2020
Jéssica Kuhn
Quem é que já fez análise e nunca se perguntou sobre o que o seu próprio analista estava pensando? Hum… você quer mesmo saber?
Então aí vão algumas respostas para as perguntas mais frequentes que os pacientes costumam fazer a si mesmos sobre o tema:
1) O que o meu analista pensa quando eu digo que estou sem assunto, que eu não tenho o que falar hoje?
Essa é típica de início de análise, mas ocorre também aos pacientes mais experientes. Sabe aqueles dias em que você chega para a sua sessão de análise e essa questão da tal falta de assunto fica perturbando a sua mente?
Não se preocupe com isso. O seu inconsciente sempre fala! Se não por palavras, por gestos, silêncios… E o assunto sempre surge. E talvez seja até esse: “Eu não tenho nada para falar para você hoje”! Curiosamente essas sessões costumam ser bem produtivas em termos de conteúdo. Começa meio sem jeito, sem ter do que falar e de repente começam a brotar muitos temas.
2) E quando acontece aquele silêncio?
O silêncio incomoda dos dois lados. E às vezes pode incomodar mais o analista! Para o analisando, o silêncio muitas vezes está povoado de pensamentos e sentimentos, podendo ser por vezes reconfortante ou mesmo passar meio que despercebido.
Já o seu analista pode estar pensando inclusive: “e agora o que eu falo? O que eu faço?” Um analista mais experiente segura sua ansiedade e/ou possível constrangimento e aguarda pacientemente pelo seu analisando. Ele sabe o valor do silêncio! Se engana quem pensa que o silêncio é mudo. Ele é apenas ausente de palavras e repleto de significados.
3) Tenho me repetido muito. Será que ele fica entediado?
Sim, ele é humano! Mas a repetição é sintoma. Se as mesmas histórias e queixas são contadas novamente é porque demandam interpretação. E muitas vezes as repetições não são meras repetições. A história muitas vezes é recontada de maneira diferente.
4) O que o meu analista pensa enquanto estou falando?
De preferência em nada. O analista tenta ouvir ao máximo o paciente.Ouvir o que ele diz e principalmente o que ele não diz. Ele “ouve” seu gesto, seu silêncio, sua entonação de voz, sua postura, seu ritmo, expressões faciais… Ele precisa prestar atenção em tudo o que vem de você! No setting terapêutico, a atenção deve estar voltada exclusivamente ao paciente.
5) Ele acha graça do que eu falo?
Sim, claro!
A graça muitas vezes vem das armadilhas da própria linguagem, de como as pessoas usam as palavras para se enganar, para proteger a si mesmas ou a outrem, para incriminar o outro, para se eximir, para evitar ou desviar de um assunto, etc.
6) Ele se comove com o meu relato?
Certamente! O seu analista se comove com o seu sofrimento e com a sua alegria. Ele torce por você. Só não o confunda com um ombro amigo. A posição do analista não é a de te consolar e sim de oferecer um olhar exterior, um ponto de vista mais isento para você compreender o que se passa com você.
7) Ele presta atenção nos meus gestos?
Sim, o tempo todo. Nós falamos com o corpo e o analista escuta isso sempre
8) Mas ele atendeu o dia todo, eu sou a última consulta do dia… Será que isso não atrapalha a minha análise?
Não se preocupe! O seu analista irá atender várias pessoas durante o dia. Mas quando ele estiver com você, a exclusividade é toda sua! O foco está sempre no paciente que estiver com ele no momento.
E o melhor é que você não precisa se preocupar com nada disso. Você não está lá para ser interessante, para ser adequado emocionalmente, para agradar ou muito menos para ser julgado. Fique à vontade e deixe que venham as palavras e os sentimentos.
E assim desejo a você uma proveitosa sessão de análise, sempre.