Por que é tão difícil perceber o “gaslighting”?
Publicado dia 27 de julho de 2021
Jéssica Kuhn
O abuso emocional é uma forma de depreciar, deslegitimar e desconsiderar o outro. Algo que pode ocorrer em qualquer relação humana: no trabalho, na família, no convívio de amigos e entre um casal. É um exercício de poder que visa estabelecer quem é o superior na relação.

“Gaslighting” é uma forma de abuso psicológico. O termo vem de 1938, da peça “Gas Light”, em que um marido tenta enlouquecer sua esposa diminuindo todas as luzes de casa (que funcionavam à gás) e negando a ela que isso estivesse acontecendo.
Essa forma muito eficaz de abuso emocional faz com que a vítima questione seus próprios sentimentos e sanidade, o que dá ao parceiro abusivo muito poder à medida em que a vítima fica cada vez mais insegura.
Geralmente, o abuso emocional acontece de forma gradual e sem que a vítima perceba. Com o passar do tempo, esses padrões abusivos aumentam, fazendo com que a vítima se torne cada vez mais dependente da relação e muitas vezes se isole de amigos e familiares. O abusador utiliza de técnicas que vão desde a negação dos fatos, como “não é nada disso”, passando pela banalização dos sentimentos da vítima (“como você é exagerada”).
A violência psicológica pode gerar problemas sérios, como depressão, isolamento, ansiedade, confusão mental e até pensamentos suicidas.
O corpo também é afetado: alterações no sono, distúrbios alimentares, abuso de álcool e outras substâncias são consequências comuns para a vítima de abuso emocional.
Para superar o gaslighting, é importante começar a reconhecer os sinais e aprender a confiar em si mesma/o novamente.
Sinais de que você está sendo vítima de gaslighting
Como o gaslighting se caracteriza por ser um abuso velado e que na maioria das vezes passa despercebido pela vítima, é importante conhecer suas manifestações mais frequentes e ver se elas não estão também presentes em sua vida. Então, muita atenção se você:
– pergunta-se várias vezes ao dia: “será que estou sendo sensível demais?”
– duvida de si mesma/o constantemente, sentindo-se confusa/o ou até mesmo louca/o
– pede desculpas com frequência
– não compreende por que, com tantas coisas aparentemente boas na sua vida, você não está feliz.
– frequentemente cria desculpas para justificar o comportamento do abusador (ou abusadora) para seus amigos e sua família e até para si mesma/o
– começa a esconder informações dos seus amigos e da sua família para que não tenha que dar explicações ou inventar desculpas
– sente que algo está muito errado, mas nunca consegue expressar exatamente o quê, nem para si mesma/o
– começa a mentir para o abusador (ou abusadora) a fim de evitar as distorções da realidade e ser posta/o para baixo
– tem dificuldade para tomar quaisquer simples decisões
– sente que costumava ser uma pessoa muito diferente – mais confiante, mais divertida e mais relaxada
– você se sente desanimada/o e sem esperanças
– sente que não consegue fazer nada certo
O papel do psicanalista
As consequências da agressão psicológica tendem a ser intensas demais para que o tratamento seja negligenciado. Não procurar ajuda vai desencadear maior sofrimento mental, sintomas e quadros clínicos não tratados tendem a se tornar crônicos, a se agravar e a prejudicar fortemente a vida da pessoa.
A psicanálise irá ajudar a encontrar mecanismos pessoais para lidar com essa violência.
O fundamental é retirar a vítima de uma posição passiva para colocá-la em uma posição ativa, onde consiga se posicionar e interromper esse padrão de relacionamento.
Tudo isso sempre levando em consideração as singularidades de cada caso e as particularidades de cada sujeito para lidar com o abuso psicológico sofrido.
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