Preguiça: doença ou condição?
Publicado dia 17 de novembro de 2020
Jéssica Kuhn
Está se sentindo desanimado, desmotivado e sem energia? Será… preguiça?
Basta fazer uma busca rápida na Internet para encontrar dezenas de artigos com dicas sobre como superar a preguiça. Mas entre as suas causas, podem existir processos psicológicos e fatores latentes negligenciados. Compreender isso e descobrir o que há por trás dela é o que de fato nos ajudará a superá-la e a vencer esse estado de apatia e desânimo que muitas vezes a acompanham.
A dimensão psicológica da preguiça
Você já se perguntou o motivo de estar assim?
A falta de confiança no futuro, a perda de expectativas no presente e o esvaziamento de objetivos são fatores que podem desencadear um grande desânimo. É o que acontece quando somos confrontados com uma realidade complexa e adversa como a que temos experienciado durante esse ano.
A falta de esperança muitas vezes nos leva à preguiça. Isso é normal e perfeitamente compreensível. E também nos alerta para a importância de sempre estarmos em busca de novas motivações, que nos tragam alegria, esperança e um novo propósito de vida.
A preguiça tem uma grande dimensão psicológica e por isso ela pode estar escondendo muitas coisas, como depressão, medos inconscientes e até o peso do estresse.
A preguiça pode ser uma máscara
A preguiça pode mascarar muitos medos: medo de fracassar, medo de decepcionar a si mesmo ou outra pessoa, medo de ser quem você é, medo de ter que enfrentar o que não controlamos, medo de ingressar na vida adulta… Os medos são os mais variados, mas todos eles em alguma medida nos paralisam. E assim acabamos adiando tudo para amanhã, aquele amanhã que nunca chega.
Embora a preguiça e a procrastinação muitas vezes andem juntas, há sim como diferenciá-las. O procrastinador tem a real intenção de se envolver em uma tarefa. Já a pessoa que está tomada pela preguiça nem sempre tem forças para conseguir alcançar seus objetivos.
Camuflada por exaustão, pela apatia e pelo desânimo, a depressão nem sempre é fácil de ser percebida, mesmo por quem padece dela. E a preguiça é um sintoma recorrente para quem sofre de depressão. A dica aqui para diferenciá-las é: fique atento, especialmente se ela for acompanhada de pensamentos fatalistas, negatividade e desesperança.
A preguiça ainda pode estar mascarando outras doenças psicológicas como síndrome do pânico, burnout, transtorno de ansiedade generalizada, síndrome da fadiga crônica, fobias diversas, entre outras.
A dimensão médica da preguiça
As causas da preguiça também podem incluir condições médicas. Por isso, diante de cansaço prolongado e exaustão é conveniente afastar possíveis desordens físicas.
Afinal, ela pode ser sintoma de que algo está errado com o seu organismo (anemia, avitaminose, disfunção da glândula tireoide, apneia do sono, narcolepsia, entre outras).
Nesse sentido é importante estar atento à relação que é estabelecida com a preguiça Nem todo preguiçoso está doente mas algumas pessoas quando estão doentes apresentam preguiça entre seus sintomas.
Quando a preguiça é bem-vinda
Momentos de preguiça são necessários para o descanso e também para que possamos refletir sobre as tarefas e atividades que estamos realizando. A falta de vontade e motivação pode ser um momento de descoberta, de rever como estamos conduzindo nossas vidas.
A preguiça pode também representar uma rebelião do corpo ao estilo de vida estressante e cheio de tarefas e compromissos que muitas pessoas acabam desenvolvendo. É como se o corpo demandasse lazer e descanso através da falta de vontade e da moleza.
Alguns autores, como o sociólogo italiano Domenico de Masi, acreditam, ao contrário do que muitas pessoas pensam, que o ócio é uma parte fundamental da produtividade. Nos anos 90, di Masi elaborou um conceito hoje bastante conhecido, o do “ócio criativo”. Segundo ele, o futuro da sociedade pós-industrial está marcado pela união entre estudo e lazer.
De fato, os momentos de ócio são muito indicados para a manutenção da saúde mental.
Para a preguiça ir embora
Se persistirem os sintomas e a preguiça estiver paralisando sua vida de alguma forma, talvez seja hora de procurar ajuda médica e/ou psicológica.
Afastadas as causas fisiológicas, a psicanálise é uma boa aliada contra a sua preguiça. O psicanalista irá conduzi-lo em um processo de auto-conhecimento, descobrindo e combatendo as causas mais profundas que possam estar levando a esse comportamento e sentimento de preguiça, cansaço e desmotivação – o que é feito através do enfrentamento de seus medos, ansiedades e angústias mais profundas.