Quando o sexo vicia

Publicado dia 5 de outubro de 2021

Jéssica Kuhn

Uma doença solitária, cercada por tabus, onde o sentimento de vergonha está muito presente. Isso faz a pessoa esconder o que sente e não procurar ajuda, agravando o seu quadro clínico.

Em 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu o transtorno de comportamento sexual compulsivo na sua lista de doenças oficialmente reconhecidas. A esperança foi de que o serviço público de saúde desse maior atenção e seriedade ao atendimento e tratamento desses casos.

Ao contrário do que muita gente pensa, gostar de fazer sexo não tem relação direta com a compulsão sexual. A pessoa pode ter uma vida sexual ativa e intensa sem ser compulsiva.

Na compulsão sexual, a pessoa tem comportamentos e fantasias sexuais em excesso, e precisa saciar seu desejo imediatamente, não importando onde, como e com quem. O transtorno se caracteriza por atos impulsivos, masturbação frequente, uso constante de pornografia, parceiros múltiplos e ocasionais e sexo desprotegido sem se preocupar com as consequências.

Confira a seguir quais são as causas e tratamentos possíveis para esse tipo de compulsão.

As causas da compulsão sexual

Alterações no equilíbrio dos neurotransmissores  relacionados à atividade sexual, eis uma das hipóteses para entender a causa do problema.

Há também doenças como a demência, que podem prejudicar áreas do cérebro que controlam o comportamento sexual. Ou mesmo medicamentos, como alguns usados para controlar a doença de Parkinson, que podem causar complicações nessa área.

Lesões nos lobos cerebrais temporais também podem desenvolver a hipersexualidade, como ocorre na síndrome de Kluver-Bucy.

Mas na maioria das vezes, o transtorno de compulsão sexual está ligado à ansiedade. O ser humano deseja o que não tem ou aquilo que perdeu, e esses desejos não satisfeitos e reprimidos podem gerar angústia e ansiedade, e serem causas de expressões sexuais perturbadoras, a ponto de culminar no comportamento compulsivo.

O problema também pode ser associado ao alcoolismo, dependência química, histórico familiar de compulsão, experiência de abuso sexual na infância, além de problemas pessoais e familiares.

O fato é que o comportamento sexual compulsivo causa grande sofrimento emocional para a pessoa, e traz graves consequências, com prejuízos consideráveis na dinâmica psicossocial.

Como saber se sofro de compulsão sexual?

A ocorrência da compulsão sexual se caracteriza por algumas situações bastante frequentes:

– O indivíduo se ocupa da masturbação ou do ato sexual compulsivamente.

– Quando tenta controlar o impulso sexual intenso, a pessoa experimenta uma grande tensão e ansiedade, que a faz retornar à atividade sexual, com posterior estado depressivo.

–  Negligencia a saúde e as responsabilidades em prol do sexo.

– Embora queira, não consegue resistir à necessidade constante de sexo.

–  Muitas vezes, sequer sente prazer com a atividade sexual repetida.

– Tolerância sexual – com o passar do tempo, o indivíduo se coloca em práticas sexuais cada vez mais frequentes e intensas. A ideia é conseguir obter a mesma sensação de prazer que tinha no início do problema (como ocorre com o dependente químico).

– A abstinência interfere em seu comportamento – sem a frequência sexual desejada, o indivíduo é acometido por mal-estar físico e mental. Diminuir sua frequência sexual o faz sentir-se mal.

– Declínio de desempenho no trabalho e/ou prejuízo nos relacionamentos – há um  maior e enorme gasto de tempo e energia direcionado aos pensamentos sexuais obsessivos, à masturbação e à atividade sexual do que qualquer outra coisa.

Isso pode causar danos à profissão e prejuízo financeiro, devido aos gastos extras decorrentes da necessidade da expressão sexual a qualquer custo.

– Uso de substâncias psicoativas – álcool e drogas costumam estar presentes e fazer parte do quadro clínico.

O tratamento para compulsão sexual

O problema requer intervenção profissional, uma vez que dificilmente a pessoa com compulsão consegue se livrar dela sozinha.

É preciso lembrar que cerca de 70% dos pacientes viciados em sexo também apresentam ansiedade e depressão. A psicoterapia é fundamental no tratamento. A psicanálise irá tratar as causas psicológicas bem como identificar os gatilhos da compulsão por sexo.

Pode ser necessário também o uso  de medicamentos, tais como antidepressivos, ansiolíticos e/ou neurolépticos, sempre orientado, claro, pelo médico psiquiatra.

O propósito do tratamento não é inibir o sexo, mas sim ter um controle maior e sadio sobre ele. E não deixar algo bom e positivo para a saúde se tornar desespero.

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