Relacionamento aberto: funciona pra você?

Jéssica Kuhn

Alternativa à monogamia, o relacionamento aberto é um acordo estabelecido entre o casal, onde não se exige exclusividade. E isso não se restringe à inclusão de novos parceiros sexuais (juntos ou separadamente) pois também podem fazer parte desse acordo outros relacionamentos românticos.

Muito diferente do imaginário popular, esse tipo de relacionamento não é uma situação onde cada um faz o que quer.

Da mesma forma que relacionamentos fechados possuem algumas regras, em um relacionamento aberto há compromissos e regras que são pré-estabelecidas e exclusivas de cada casal e que devem ser muito bem comunicadas.

A regra fundamental

A regra fundamental do relacionamento aberto são na verdade, duas: diálogo e autoconhecimento.

Viver uma relação aberta é um processo de descobertas. O diálogo precisa ser franco, aberto e deve acontecer a todo momento. Como não existe uma receita pronta, os envolvidos precisam analisar o que desejam e o que não estão dispostos a aceitar. E, claro, eles têm direito a mudar de ideia!

Já o autoconhecimento irá permitir reconhecer os próprios limites e motivações. Ajuda  também a garantir a autoestima e a ter expectativas realistas para poder negociar as “cláusulas do contrato”.

E sempre é bom lembrar que abrir mão de si para agradar o outro inevitavelmente traz muita dor e frustração. E isso vale para qualquer tipo de relacionamento.

Por que ter um relacionamento aberto? 

As vantagens do relacionamento aberto são tentadoras: poder proporcionar a si mesmo experiências sexuais com outras pessoas sem se sentir culpado depois,  diminuir as DRs (discussões), quebrar a rotina, sentir-se livre e pleno em suas escolhas, maior cumplicidade entre o casal, amadurecimento emocional…

O relacionamento aberto costuma ser mais tranquilo no início da relação. É quando ele é visto como um modo de perceber se a relação vai dar certo, um jeito de se proteger de uma grande frustração.

Mas se a opção por esse tipo de relacionamento for motivada por uma crise, uma tentativa de “salvar” o namoro ou casamento… esqueça! Não espere que terceiros salvem a sua relação.

Outro erro é entrar nesse tipo de relacionamento para fazer a vontade do parceiro, para não perdê-lo. O relacionamento aberto deve ser interessante para ambos, promovendo satisfação recíproca.

Relacionamento aberto é relacionamento sério?

Será que um relacionamento aberto não pode ser sério?

Se você estiver pensando apenas em relações sexuais casuais, sem envolvimentos emocionais, podemos entender que, como não há comprometimento de ambas as partes, não é “sério”.

Entretanto, nos casamentos abertos há a ideia de cumplicidade e amor. E a seriedade está na confiança e na honestidade envolvidas. O que falta para o relacionamento ser visto como sério?

O que pensar antes de abrir a relação?

Em primeiro lugar, o casal deve ter certeza de que entendem relacionamento aberto da mesma forma. É preciso ouvir e falar com maturidade sobre desejos, sentimentos e expectativas.

Será aberto apenas para o sexo ou os parceiros podem se permitir outros níveis de envolvimento?

Conhecidos, ex-namorados, amigos em comum fazem parte da lista de possibilidades ou estão vetados?

Vale para todos os dias da semana, em qualquer lugar ou fica restrito a  momentos em que vocês estão longe? Só vale nas baladas ou viagens?

Enquanto ambos não estiverem seguros do que desejam viver e o que consideram saudável se permitir e permitir ao outro, melhor esperar.

A comunicação é fundamental e deve ser contínua. Através de um diálogo aberto, ajustes podem ser feitos. Inclusive, pode-se chegar à conclusão de que o relacionamento aberto não está dando certo! Nenhuma relação vem com garantias de sucesso, certo?

Quem pode viver um relacionamento aberto?

Qualquer pessoa que esteja disposta a viver essa experiência. A opção de abrir o relacionamento pode ser ótima para jovens casais ou parceiros de longa data, que se amam, respeitam e conhecem o suficiente para experimentar a liberdade desse tipo de relacionamento.

Se você estiver considerando a ideia, que tal conversar com seu terapeuta sobre o assunto? Investir em sua autoestima, conhecer profundamente as suas vontades, empoderar-se de sua voz e sexualidade, com certeza, são algumas contribuições que a psicanálise poderá lhe dar. E quanto mais cientes estamos de nossas decisões, maiores são as chances de boas escolhas. A terapia traz equilíbrio e impede que fantasias nos guiem para escolhas equivocadas.

A liberdade de ser e existir pede o reconhecimento das próprias escolhas e as dos outros. Seu relacionamento não precisa ser aberto. Mas seria ótimo se a sua mente pudesse ser.

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