Viagem ao interior de si mesmo

Publicado dia 19 de dezembro de 2019
Muitos ainda perguntam o que é a psicanálise, e se é algo que se destina unicamente a pessoas com transtornos mentais.
 
A psicanálise, desde sempre, vem se mostrando um ótimo caminho de autoconhecimento. É através deste processo que ela se mostra um valioso instrumento de manutenção da saúde mental para todas as pessoas. Todas. Evidentemente, se mesmo aqueles que não possuem qualquer diagnóstico de distúrbio mental têm muito a se beneficiar da terapia psicanalítica, pode-se imaginar o bem que ela pode fazer para aqueles que já receberam tal diagnóstico.
 
Partindo de uma investigação de si próprio, de sua história de vida e consequentes registros de emoções e comportamentos, o analisando é convidado a uma viagem interior, com o intuito de olhar questões que muitas vezes passam despercebidas – porque a intenção é não as perceber mesmo, não as admitir. A questão, porém, é que essa negação é inconsciente. Situações como, por exemplo, culpar os outros quando na realidade, são nossas estruturas frágeis que não nos permitem reagir de forma diferente, colocando-nos no papel de vítima. Ou ainda, esperar que o outro peça perdão por uma ofensa, quando, na realidade, o próprio indivíduo não teve estruturas que lhe possibilitassem reagir de forma diferente e não se sentir ofendido.
 
Essa jornada busca desenvolver um novo olhar, de gentileza mas também de honestidade, que permita desbravar áreas até então desconhecidas – seu “inconsciente” – com um único objetivo: expandir seu “consciente” e definitivamente perceber que ele não é nem o papel social que exerce, nem a percepção das pessoas a seu respeito, e muito menos, a identificação engessada e idealizada que ele cria de si mesmo.
 
A psicanálise, portanto, pode proporcionar o passo definitivo na profunda busca pelo autoconhecimento, tornando a pessoa capaz de optar por decisões com maior probabilidade de acerto, que lhe trarão autenticidade, autoestima, amor próprio, paz de espírito, leveza, enfim, tudo o que a transformará em um ser humano muito mais preparado para enfrentar as suas inseguranças e desafios do mundo exterior.
 
Conhecendo o que está dentro de você
 
E se você acredita que se conhece bem, tente explicar aquele seu comportamento que você mesmo gostaria que mudasse, mas não consegue. É possível então que você esteja num “funcionamento automático”, fruto de registros emocionais na sua história de vida, necessários em algum momento do seu passado, mas que agora podem estar lhe atrapalhando e, por isso mesmo, devem ser olhados com muito amor.
 
Negligenciar essas emoções certamente é a causa de padrões repetitivos indesejáveis – como reações explosivas, baixa autoestima, necessidade de controle, medo, ansiedade, crises de pânico, paralisações diante de determinadas situações, fobias e muitos outros comportamentos e emoções.
 
Buscar o entendimento das próprias emoções e, mais amplamente, o entendimento de como opera a mente humana, permitirá conhecer aquilo que você traz dentro em seu interior.
 
Um novo olhar para o passado
 
Um olhar para quem você é hoje pressupõe um olhar para a sua história de vida, seu passado, mais especificamente, seus conflitos no passado: suas sombras.
 
As emoções inexplicáveis de agora, as dores emocionais e mesmo sintomas físicos que surgem sem sabermos o porquê, estão em íntima relação com os registros do passado, e podem estar causando, hoje, medos, pânicos, limitações ou angústias, comportamentos ou reações incontroláveis e indesejáveis.
 
Por exemplo, a dificuldade diante de um chefe pode estar relacionada com uma situação em que, diante de um professor, lá nos primeiros anos da escola, a criança se sentiu incapaz. Um adulto pode não conseguir ter bons relacionamento afetivos porque, em sua primeira infância, certa vez, viu os pais se agredindo, verbal ou fisicamente.
 
Todos esses registros, memórias carregadas de sentimentos, apenas são acessados diante de uma ‘autorização’ do paciente. Na verdade, ele se autoriza a entrar em contato com esses conflitos.
 
A psicanálise é o caminho até aquela vivência que gerou essa emoção específica que veio tornar-se mandante incontrolável de suas ações e reações hoje. Assim, os conflitos do passado são o grande eixo teórico da psicanálise.
 
Desconstruções e reconstruções
 
Olhar-se com amor e compaixão, mas também com honestidade, buscando conhecer suas fragilidades, as emoções e sentimentos que habitam o seu interior, é um processo de desconstrução. É preciso despojar-se da pessoa que você pensava ser, para ser verdadeiramente a pessoa que você nasceu para ser.
 
Alicerçado em novas estruturas, torna-se possível a ressignificação de tudo o que é passado e inicia-se um novo processo: o da reconstrução.
 
Novos significados são atribuídos ao que antes era dor, a partir do não julgamento de si mesmo e de situações do passado, ou de pessoas que fizeram parte dessas situações, perdoando-as e perdoando-se, desfazendo-se de crenças e visões do mundo que lhe limitavam. Um novo sentido é dado a tudo que se viveu, novos registros são criados e, por fim, há um novo olhar para esse passado.
 
Você traz, ainda, dessa jornada para o inconsciente, novos recursos, possibilidades e potencialidades que vão tornar você mais forte para encarar as adversidades da vida.
Enfim, o autoconhecimento vem através do reconhecimento e compreensão de si mesmo, respeitando-se em sua unicidade e complexidade, integrando agora cada parte que compõe a sua individualidade.